Decidi há muito que esta corrida em Almeirim seria uma das que não me poderia “fugir”. E foi já a salvo de formalismos e cuidados sobre o que escrevo que me fiz ao caminho. Várias eram as razões que motivavam esta minha decisão: o confronto entre duas dinastias de toureiros, daqueles que ainda preservam a essência do toureio a cavalo (de verdade e com verdade) foi o primeiro motivo. Depois, seria a última vez em que iria assistir a uma corrida em que o grupo de forcados de Montemor iria ser comandado (formalmente) por José Maria Cortes.
Confesso que é para mim difícil estar a escrever sobre mais esta minha “aventura” taurina numa altura em que esse grande forcado está a ser homenageado e a passar o testemunho ao novo cabo do grupo.
Por isso mesmo vou começar por dizer que, nesta noite, o Zé Maria comandou o seu grupo de forma exemplar, tendo os elementos escolhidos para irem à cara dos toiros pegado à primeira tentativa e com boas pegas, numa actuação (mais uma) memorável deste grupo de forcados. E também quero dizer que, desde que o Zé Maria passou a comandar o grupo lá do alto, que tenho assistido a grandes actuações e grandes pegas…
Tenho que confessar também que o elemento que nesta noite me fazia recear pelo insucesso da corrida era o toiro. Os toiros da ganadaria de José Lupi não são dos meus preferidos, se bem que também não os tenho visto muito. Mas, desta vez, surpreenderam-me pela positiva. Sem serem bravos, longe disso, deixaram-se lidar e até “empurraram”, pelo menos por detrás do cavalo. Mostraram-se reservados, uns mais do que outros, e o que saiu em quarto lugar foi um manso que desde cedo se refugiou em tábuas e não mais de lá saiu. Não eram pesados em demasia (entre os 505 e os 540 kg) e estavam bem apresentados, com o senão da cara do terceiro da ordem.
Das lides a cavalo não vou comentar muito. E por uma simples razão: o toureio a que assisti foi do bom, daquele caro, que merece bem o valor que se paga por uma entrada/bilhete.
A lide a duo de António Telles e do seu sobrinho João foi soberba. Entendimento perfeito, cooperação e ferros de alto gabarito foram a tónica de uma lide que vai, por certo, ficar na história das lides a duo. Deu gosto ver… Olé!
A lide a duo da dinastia Salgueiro foi de menos a mais, acabando em muito bom plano, com dois pares de ferros, cravados no ressalto um do outro e após uma preparação primorosa. Também gostei de ver…
As lides a solo, todas elas tiveram momentos muito bons. João Salgueiro optou por citar de largo e ir de encontro ao toiro e, nos terrenos deste, deixar bons ferros de alto a baixo e ao estribo, como o segundo curto, para mim o que mais se destacou, numa boa lide.
João Salgueiro da Costa alterna momentos soberbos com outros menos bons. No dia em que conseguir corrigir teremos, por certo, um grande toureiro. Dentro do melhor (1º, 2º e 5º ferros curtos e 2º comprido) e do pior (1º ferro comprido e 4º curto, em que falhou descaradamente o toiro), assisti a um grande ferro, o terceiro curto.
António Telles teve pela frente um manso ao qual deu a lide correspondente, mostrando, como em muitas outras ocasiões que os mansos também têm a sua lide e demonstrando como se faz… Depois de cravar três compridos no espaço de uma moeda, viu-se obrigado a cravar a ferragem curta em sortes sesgadas, tendo eu retido o grande terceiro ferro curto, com o manso a apertar mais na reunião.
João Telles teve, quanto a mim, a melhor lide da noite. Sempre muito correcto na brega e deixando ferros sempre em sortes frontais, precedidas de ligeira batida ao pitón contrário, terminou com um grande ferro, indo de encontro ao toiro, provocando-lhe a investida, entrando-lhe nos terrenos e cravando de alto a baixo em reunião cingida.
Pelos forcados amadores de Santarém começou António Grave de Jesus, que entrou nos terrenos do toiro, sacou-se e reuniu bem, mas faltou uma primeira ajuda com maior determinação e acabou por sair. Na segunda entrada não recuou e, nos terrenos do toiro, não conseguiu reunir. Consumou á terceira tentativa, numa reunião defeituosa e com ajudas carregadas. Lopo de Carvalho e Ricardo Tavares saltaram para a cernelha ao terceiro da noite e, à primeira entrada, consumaram uma muito boa pega, mostrando o que não é hoje muito habitual ver nas nossas praças. João Torres foi à cara do quinto da ordem e na primeira tentativa não recebeu bem um toiro que saiu de pronto e não conseguiu reunir. Consumou à segunda com o toiro a seguir pelo seu caminho e a não dificultar a chegada do grupo.
Montemor teve uma noite perfeita… João Pedro Tavares foi o escolhido para pegar o segundo da noite. Marcou perfeitamente todos os tempos e consumou uma boa pega, das chamadas tecnicamente perfeitas. Manuel Dentinho pegou o quarto da corrida, depois e um bom cite, a dar vantagens, entrou nos terrenos do manso e acobardado, recebeu uma boa primeira ajuda e consumou mais uma muito boa pega. A encerrar para os de Montemor esteve João Braga. O toiro saiu de pronto e com pata, o forcado reúne muito bem, aguenta derrotes e viaja até embater com algum impacto nas tábuas onde o grupo fecha com coesão.
E pronto, para o regresso às minhas lides, a coisa esteve muito bem e valeu a pena, muito mesmo…
Por: Catarina Afonso
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