A Propósito dos Diretores de Corrida…

       
       Há já muito tempo que me apetecia escrever algo sobre os diretores das corridas de toiros em Portugal. A falta de tempo e talvez alguma falta de “coragem” levaram a que só agora o faça. E digo falta de “coragem” porque alguém com responsabilidades na Festa em Portugal me disse uma vez que não era de bom-tom fazê-lo, que isso era dar força aos anti taurinos, etc. etc. Com a chegada de nova fornada de diretores e com a “reforma” forçada dos muitos que há anos andavam a arrastar-se pelas nossas praças, penso que chegou o momento… Os diretores de corrida em Portugal não têm passado de figuras decorativas dentro dos rituais da Corrida de Toiros…e continuam a sê-lo. Digo isto porque hoje ninguém respeita os diretores de corrida, nem eles conseguem fazer-se respeitar. Mas também como é que podem fazê-lo se eles próprios fizeram parte do interior (podre) da nossa Festa, sabendo todos os “truques” e malabarismos que são praticados no meio? E se até eles, um dia, já puseram em prática esses “usos e costumes”, como podem vir agora impor aos outros restrições ou proibições a essa prática? Vem isto a propósito e contra os que defendem que só pode ser diretor de corrida quem já foi interveniente direto nos meios tauromáquicos (leia-se, matador de toiros, cavaleiro tauromáquico, bandarilheiro, forcado…). Considero eu que os diretores de corrida não devem ser estes que um dia e por muitos anos andaram no meio, mas antes quem, com conhecimentos e habilitações condignas, pode desempenhar essa função de modo isento, imparcial e sem cedência a manobras de bastidores muito em uso no mundo tauromáquico. ( E basta ver o clima de agitação e nervosismo sempre que alguém da IGAC faz uma vistoria à praça durante uma corrida…) A propósito de isenção e imparcialidade – exigíveis em todas as profissões, mas muito mais ao nível do exercício de funções no Estado, onde estes princípios estão legalmente consagrados – como pode um diretor de corrida, na atualidade, ser isento e imparcial quando lá em baixo está, como interveniente direto o “seu” grupo de forcados? Ou o cavaleiro de que foi peão de brega durante muitos anos? E, mais grave ainda, quando um seu familiar direto faz parte do grupo de forcados ou das quadrilhas de bandarilheiros que atuam nesse dia? Se uma decisão de um qualquer funcionário ou agente do Estado sobre um assunto em que participa um seu familiar até determinado grau é geradora de nulidade nesse processo, como pode isso não se estender ao caso das corridas de toiros? Não nos enganemos! Ou isto da Festa é levado a sério e com algum rigor neste campo concreto ou nunca poderemos mostrar aos “outros” que a nossa paixão tem e pratica valores que muitas vezes não existem em manifestações de outra índole… Aguardo, pois, com muita expectativa a entrada em funções nos novos diretores de corrida, mesmo sabendo que não posso esperar muitas alterações, dada a forma como decorreu e está a decorrer o processo de seleção (prazos, estágio, avaliação do estágio, determinação do número de vagas a preencher…). Acredito, no entanto que estes novos diretores (alguns de “fora” da Festa) podem e devem mudar muita coisa em relação à direção das corridas de toiros em Portugal. 

 Por: Catarina Afonso

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