Já aqui referi algumas vezes que, quando criei este espaço, nunca foi
minha intenção fazer crónicas de corridas, nem tenho conhecimentos que me
permitam essa veleidade, embora haja quem pense que sim. A minha única intenção
foi e continua a ser a de exprimir as minhas vivências enquanto aficionada à
Festa dos Toiros. E é isso que, sempre que possível, irei fazer.
Desta vez e sem saber que estavam a ser assinaladas as bodas de prata da
realização de corridas de toiros na castiça localidade alentejana de S.
Cristóvão, decidi comparecer nesta corrida de toiros, tendo como referência
dois aspectos que poderiam ser interessantes de ver.
O primeiro eram os toiros que vinham da ganadaria Palha e o segundo era o
grupo de Montemor que pegava em solitário.
Se no que diz respeito aos toiros (a os quais foram estimados pesos entre
os 450 e os 470 kg), vi o que estava à espera quanto a comportamento
(apresentação já nem por isso…), quanto à prestação do grupo de forcados de
Montemor também vi grandes lições na arte de bem pegar toiros, com as pegas aos
primeiros cinco toiros a serem dignas da história da tauromaquia, pelo bom
conjunto de pegas que constituiram. Já na última, pareceu-me que o jovem
forcado da cara acusou alguma inexperiência, fruto da falta de pegas (podia até
ter sido também da música de baile que o acompanhou na pega…)
Quanto ao resto do cartel, confesso que não ia à espera de nada melhor.
Perante toiros que pediam cavaleiros a sério (e não me venham dizer que os
toiros eram complicados, sem lide possível, etc. etc., porque todos os toiros
têm a sua lide e das melhores que vi esta temporada, senão a melhor, foi a um
manso que nunca saiu de tábuas…), os cavaleiros presentes não conseguiram estar
por cima dos seus oponentes.
Ainda assim, Luís Rouxinol foi o que esteve melhor, fruto da sua
experiência, aliada ao seu bom conceito de toureio. Bem a bregar,
preocupando-se com a colocação do toiro e dando preferência às sortes frontais,
deixou alguns bons ferros, sem, contudo, construir uma lide daquelas de encher
o olho ao aficionado. Três bons ferros curtos no que abriu praça e um bom curto
no segundo do seu lote, complementado com um par de bandarilhas de boa nota,
foi o que retive das suas duas lides.
Ana Batista esteve uns furos abaixo dos astados que teve pela frente.
Perante um primeiro que apertava na reunião, deixou a ferragem quase sempre à
garupa. No seu segundo a ferragem, andou muito à pesca e colocou os ferros de
forma defeituosa, depois de passar em falso demasiadas vezes. Com a conivência
do sr. Diretor, prolongou a lide muito para além dos tempos que o caduco
regulamento prevê (foi quase o dois em um. Ou melhor, duas em uma…). Vá lá que
no final não deu volta, apesar de ter escutado música durante a lide.
Filipe Gonçalves, no terceiro da noite, montou o seu espectáculo, com
ladeares e piruetas na cara do toiro (incluindo o cavalo que bate palminhas),
que muito agradam à maior parte do público das nossas praças, mas de toureio
teve muito pouco: ferros à garupa, foram muitos, fruto das pronunciadas batidas
que o obrigaram a passar em falso e a consentir alguns toques nas montadas. No
que encerrou a noite, as coisas melhoraram e depois do início da lide não ter
sido o melhor, vimos bons ferros curtos, de colocação correta e sem alardes
despropositados.
Mas, como disse, o que mais me ficou na retina (e por certo na de outros
aficionados presentes) foram as pegas. João da Câmara citou muito bem, deu
vantagens, recuou primorosamente na cara do toiro e aguentou todos os derrotes
até o grupo conseguir fechar a rija pega (pena aquelas ajudazitas extra…). João
Braga esteve enorme perante o segundo da noite. Aguentou muito bem os derrotes
duros do toiro, recebeu um boa 1ª ajuda e o grupo fechou com grande coesão uma
muito boa e muito rija pega. Tiago Telles de Carvalho, deu vantagens ao toiro,
recuou bem e, embora não se fechando de pernas, emendou e aguentou até o grupo
consumar a pega. Francisco Barreto efectuou duas boas pegas. Na primeira
tentativa, citou e carregou de largo, teve uma grande reunião, mas saiu já no
meio do grupo que não esteve lesto nas ajudas. Consumou à segunda numa boa pega
à córnea e com uma boa ajuda de Francisco Godinho. Noel Cardoso, citou de forma
correta, mandou vir quando quis e, embora tivesse ficado algo pendurado na
córnea, conseguiu concretizar mais uma boa pega. António Calça e Pina, não
esteve bem a receber e, nas duas primeiras tentativas, não conseguiu reunir.
Consumou à terceira com ajudas carregadas. No final recusou a volta, tendo sido
chamado o grupo à arena, para agradecer os aplausos, numa boa noite de pegas,
decerto muito aplaudidas lá do alto pelo seu cabo José Maria Cortes.
Dirigiu o sr. Agostinho Borges, que foi algo condescendente com a segunda
lide de Ana Batista.
Por: Catarina
Afonso
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