Geralmente todas as corridas de
toiros são anunciadas por ocasião de uma qualquer festividade ou para
comemoração de qualquer acontecimento, sendo que é habitual que tenham lugar,
todos os anos, na mesma altura.
Desta vez, em Alcácer do Sal,
realizou-se uma corrida de toiros sem que houvesse qualquer feira ou festa que
a justificasse, nem que houvesse qualquer efeméride a assinalar. Nem sequer a
data era uma data em que habitualmente, em cada ano, se realizasse. Apesar
disso, a casa esteve composta, sinal de que o cartel e a ideia dos toiros,
cavalos & fados passou bem para o público.
Se a data não era habitual,
habitual se tem tornado a atribuição de prémios: prémio para a melhor lide e
prémio para a melhor pega. E a verdade é que ainda não vi, esta época, qualquer
destes prémios ter ficado por atribuir. E das duas uma: ou a nossa festa está
num grande momento, com cavaleiros e forcados a actuarem ao mais alto nível, ou
então é obrigatória a entrega dos prémios. Se é verdade que todos os dias vemos
anunciados grandes triunfos em todas as corridas, eu, como não acredito nesses
triunfos, fico-me pela segunda hipótese que coloquei, ou seja, já que há prémio
então que seja atribuído. E se assim é e como eu não acredito em triunfos todos
os dias, então que conste, em vez de “prémio para a melhor lide” e “prémio para
a melhor pega”, “prémio para a lide menos má” e “prémio para a pega menos má”.
E assim poderá ser reposta com maior verdade a atribuição de prémios…
Nesta noite foram os toiros que me
levaram a Alcácer e, desta vez, não me desiludiram. Sem serem grandes e
pesados, são verdadeiramente portugueses e, como o algodão, não enganam. Saíram
a pedir contas a cavaleiros e forcados, mostraram a casta de onde procedem e foi
preciso saber tourear para poder com eles. Gostei dos pequenos Vale Sorraia…
Quanto a cavaleiros, venceu o
prémio para a melhor lide o cavaleiro Vítor Ribeiro, pela sua primeira actuação
perante o segundo toiro (quinto da ordem, uma vez que o segundo se lesionou). E
venceu porquê? Porque foi o que esteve menos mal e porque foi o que mais
procurou tourear com verdade, sem a preocupação de tourear o público e com a
séria vontade de tourear o toiro que tinha pela frente e fazer as coisas bem
feitas: ferros colocados ao estribo, de alto a baixo e em reuniões ajustadas, e
procurando sempre os melhores terrenos para cravar, não permitindo demasiadas
intervenções dos seus bandarilheiros. Claro que nem sempre o conseguiu, mas foi
isto que aconteceu na maior parte das vezes e, quanto a mim, foi merecido o
prémio para a lide menos má…
Rui Fernandes, na primeira lide,
esteve bem com o toiro e os seus bandarilheiros também, já que foram demasiadas
as suas intervenções… Na cravagem nem sempre houve justeza nas reuniões e, na
maior parte das vezes, os ferros não foram colocados ao estribo. É verdade que
chegou ao público, mas para isso não é necessário cravar bem e lidar bem,
bastam umas piruetas e umas rosas á volta e o público (grande parte dele)
delira…
Paulo Jorge Santos também ele
conseguiu chegar facilmente ao público (e convenhamos que difícil é não
chegar). Não começou mal, embora privilegiasse os quiebros em desfavor das entradas frontais, mas venceu nele a parte
do tourear o público e então a sua preocupação pelo momento mais importante
esvaiu-se e a sua passagem pela praça que leva o nome do Califa apenas chegou
ao público e nada mais. Dele apenas retive os ferros de palmo à espanhola, os vários toques na montada (um deles com
violência) e os ferros à garupa e em reuniões pouco cingidas…
Quanto a forcados, houve duas
partes distintas: a 1ª parte foi destinada ao grupo de Lisboa e a 2ª aos do
aposento da Moita. Pelos da capital pegaram Eurico Medronheira à 4ª tentativa,
depois de nas três primeiras não ter recebido bem o toiro, Pedro Gil, que
consumou uma boa pega à primeira e Manuel Guerreiro ao terceiro intento, com a
primeira ajuda em cima e sem brilho. Apesar disso, não hesitou em sair para a
volta, ao contrário do seu companheiro de grupo que efectuou a pega ao primeiro
toiro. Deve ser por ser mais velho e sempre ouvi dizer que a velhice é um
posto…
Na segunda parte da corrida
pegaram pelos da Moita José Maria Águas, que reuniu muito bem e consumou uma
boa pega, premiada como a melhor da corrida, José Maria Bettencourt, que com um
bom cite e mandando bem na reunião consumou uma pega sem grandes complicações e
Salvador Pinto Coelho que também esteve bem na frente do toiro, que não
complicou a tarefa do forcado. Todas estas pegas foram realizadas à primeira
tentativa.
E assim foi mais uma corrida,
desta vez para o meu RA, de onde toda a gente saiu satisfeita, com excepção dos
que acharam que o prémio para a lide menos má não foi bem atribuído…
Por: Catarina Afonso
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