Quando o toiro é toiro, vale a pena!
[ Alcochete, 14 de Agosto de 2014 ]
Se na primeira da feira de Alcochete o cartel prometia no seu todo, já na
segunda corrida o grande aliciante era a despedida de um grande forcado e cabo
de um dos grupos da terra.
E então o que me fez não perder a última desta “minha” feira taurina?
Bem, como disse já, custa-me muito contribuir para a festa que temos.
Mas, como também já referi, para mim Alcochete é Alcochete, desde sempre
apregoada como a feira do toiro toiro, ou então a feira da verdade do toiro
toiro. Na maior parte dos anos em que marquei presença, este slogan foi
confirmado na arena e só raras vezes a verdade do toiro foi mentira.
Desta vez foi à procura da verdade do toiro ou, se quiserem, do toiro de
verdade que me dirigi a Alcochete para presenciar a última corrida da feira
taurina deste ano. Até porque se tratava de uma das ganadarias da minha
preferência (talvez não da preferência da maioria dos cavaleiros da nossa
“praça”, mas isso são contas de outro rosário…).
E, mais uma vez, não me enganei: o maior aliciante, para mim, no início
eram os toiros e foi o que realmente veio a acontecer. Os “castros” foram na
verdade os grandes triunfadores!
Se os primeiros dois da noite deixaram algo a desejar, as coisas foram
melhorando com o decorrer da corrida e os cinco restantes foram já daqueles de
eu gosto, quer em termos de trapio, quer em apresentação e comportamento. Sim,
porque estes são daqueles que é preciso tourear… O que encerrou a noite fez-me
até comentar: “este é daqueles à intiga!”.
Bravo bravo foi apenas o quarto que, merecidamente, fez com que o ganadero
fosse chamado à arena.
E pensarão agora: e o resto? Bem, quanto ao resto apenas registei alguns
apontamentos dignos de nota positiva.
João Moura esteve discreto, com cravagens à garupa e o segundo dos curtos
até pescado. Claro que ouviu música ao segundo curto (é já habitual nas nossas
direcções de corrida) e saiu prontamente para a volta a arena (se calhar por
falta de lenços…).
Rui Salvador não se entendeu com o toiro que lhe tocou em sorte e apenas
nos quatro últimos curtos mostrou aquilo que sabe fazer e deixou quatro ferros
muito bons.
Sónia Matias alternou ferros de nota positiva com outros menos bons.
Ainda assim, nesta noite foi do que menos mau se viu.
A par de Filipe Gonçalves que cravou os melhores ferros da noite, sendo
que o terceiro curto foi de alto nível, com emoção na reunião e com o toiro a
ir bem lá acima.
Quanto a Manuel Lupi e a Mateus Prieto, apenas anotei que não ouviram o
som da melhor banda de Portugal. E nesta “nossa” festa para que um director não
conceda música…
Já Jacobo Botero, devia ter saído após a colocação do último ferro curto,
o seu melhor. Continuou em praça para a colocação de um violino em que
consentiu forte toque na montada e saiu sem pena nem glória.
Também aos forcados os “castros pediram contas…
Por Évora iniciou a noite Gonçalo Rovisco que embora não reunisse da
melhor forma consumou a pega com o toiro a derrotar forte aquando da chegada
das ajudas junto a tábuas. Dinis Caeiro saiu para pegar o terceiro da noite e
consumou apenas à quarta tentativa, a sesgo, à meia volta e com o grupo todo em
cima, sendo que nas duas primeiras entradas não esteve bem a receber o toiro e
na terceira saiu com um forte derrote lateral. João Madeira não recebeu o toiro
da melhor forma na primeira tentativa, não conseguindo fechar-se e concretizou
a pega ao quinto da ordem ao segundo intento com o primeiro ajuda em curto. Fechou a
noite de pegas o forcado João Pedro Oliveira que não complicou e com o grupo a
ajudar bem.
Os de Alcochete começaram com Joaquim Quintella que perante o
“pára/arranca” e a investida muito reservada do toiro conseguiu uma reunião
difícil mas correcta para uma boa pega à primeira tentativa. Leandro Bravo foi
o escolhido para pegar o quarto da noite e sentiu a dureza do toiro na primeira
entrada, saindo após fortes derrotes. Consumou à segunda já com o toiro a não
complicar tanto. João Gonçalves encerrou pelos da terra com a pega da noite.
Citou algo apressadamente, conseguiu uma grande reunião e aguentou uma
enormidade os fortes derrotes até à chegada das ajudas. Destaque para a grande
ajuda dada por Diogo Toorn que, no final, muito justamente, foi chamado para a
volta.
E pronto, terminou mais uma feira taurina de Alcochete e, se não foi das
melhores a que já assisti, pelo menos teve o condão de fazer renascer em mim a
vontade de voltar às “lides”. Já valeu a pena!
Por: Catarina
Afonso
Na segunda de Alcochete apenas um momento
Depois de me encher de toureio na corrida de domingo, uma nova alma
renasceu em mim e não consegui resistir a mais uma corrida da feira taurina de
Alcochete, a fazer-me lembrar tempos idos em que passava uma semana nesta linda
vila, por ocasião das festas de barrete verde e não perdia uma corrida. Bons
tempos aqueles em que ainda acreditava piamente em tudo o que rodeia o mundo da
tauromaquia em Portugal.
Não é que hoje tenha perdido a minha fé taurina, mas já não acredito
em tudo.
Nesses tempos até consideraria que o cartel desta noite era imperdível em
todos os aspetos. Neste momento, mesmo com a alma cheia de toureio, apenas a
despedida do enorme forcado que é João Salvação constituía motivo para não
perder esta corrida.
Dos toiros de José Lupi não há muito para contar, nem bem nem mal… Ou,
como é da praxe taurina, pode dizer-se que cumpriram. Mas, como disse já por
várias vezes, eu de toiros percebo muito pouco (mas gosto muito). Ainda assim,
e correndo o risco de estar para aqui a dizer asneiras, em termos de
apresentação, os primeiro e quarto não me pareceram rematados e gostei
especialmente do quinto da ordem. O que menos cumpriu em termos de
comportamento foi o segundo da noite.
Quanto aos cavaleiros também não me vou alongar, pois que, depois dos
momentos que vivi na corrida anterior, seria difícil qualquer repetição ou uma
qualquer semelhança que fosse.
Da atuação de Rui Fernandes guardei na memória ( e no papel, claro) o 3º
curto da sua primeira lide e a forma como soube sair no final da segunda. Do
restante retive a ideia de que houve menos influências rejoneadoras no toureio que praticou, o que, para mim, já é algo de
muito positivo.
A João Moura Jr já o vi fazer melhor, sendo que é o que mais aprecio na
casa Moura. Sem que tenha estado mal, o que mais me tocou na sua primeira lide
foi a preparação de um ferro que, infelizmente falhou: cite de praça a praça e
reunião emocionante, dando vantagens ao toiro. Da lide ao segundo que nesta
noite lhe tocou em sorte, nada de especial a registar, a não ser que poderia
ter aproveitado o toiro mais encastado da corrida.
João Telles durante a lide ao segundo da noite esteve muito bem na brega,
o que é apanágio das “gentes” da Torrinha e, quanto a mim, cravou o ferro da
noite, o terceiro curto, com cite de praça a praça, dando amplas vantagens,
aguentando até ao limite e cravando em terrenos de tábuas. No seu último e
último da noite, não gostei de o ver nos compridos, melhorando a execução dos
ferros curtos. Surpreendeu-me positivamente o facto de não ter exibido um dos
seus números habituais: violino seguido de palmo.
No que às pegas diz respeito, faltou a emoção do toiro toiro tão
característica de Alcochete, o que equivale a dizer que os toiros não impuseram
grandes dificuldades à forcadagem do Aposento do Barrete Verde. O novo cabo,
Marcelo Lóia, iniciou a noite de pegas. Esteve bem no cite e a recuar,
conseguindo uma boa reunião, com o grupo a ajudar de forma coesa e sem que o
toiro complicasse. Para o segundo da noite saiu César Nunes que perante a
arrancada pronta do toiro, esteve mal a recuar e a reunir, saindo da cara. Na
segunda tentativa, apesar de não ter reunido da melhor forma, conseguiu
aguentar bem na cara do toiro e, com as ajudas a tardarem, conseguiu consumar a
pega. Alfredo Caballero saltou para a terceira pega e apesar de não ter estado bem a mandar vir o
toiro, recuou e reuniu muito bem e consumou uma boa pega. O quarto da ordem foi
pegado por Bruno Amaro à segunda tentativa. Na primeira não conseguiu
agarrar-se, mas emendou bem na segunda entrada ao toiro conseguindo uma boa
pega. João Salvação despediu-se das arenas a pegar o quinto da noite. O toiro
saiu de pronto e com pata, mal avistou o forcado, este recebeu-o muito bem,
como ele sempre soube fazer e consumou a pega, com o grupo ajudar bem.
E aqui assisti ao grande momento da corrida: a despedida desse grande
forcado, que ficará para sempre na memória dos bons aficionados. Bonito e
emocionante foi ver a praça cheia toda de pé a aplaudir um
forcado…indescritível!
António Gomes encerrou a noite de pegas, consumando também ele à primeira
tentativa, sem grandes dificuldades, apesar de não ter recebido o toiro da
melhor forma.
E pronto, lá estive eu novamente em mais uma corrida, cujo aliciante que
previa no início foi o único que valeu a pena: a despedida desse enorme
forcado que é João Salvação, por todos os aficionados conhecido como o “Ninan”.
Obrigado forcadão por mais este grande momento!
Por: Catarina
Afonso
Que saudades, Deus meu
[ Alcochete, 10 de Agosto de 2014 ]
Cada vez me custa mais contribuir para esta “nossa” Festa (e fiquem
sabendo que a minha contribuição ao longo da minha ainda curta vida de
aficionada tem já acumulados vários milhares de euros). Mesmo assim, tinha já
decidido que seria no concurso de ganadarias de Alcochete que voltaria a estas
“lides”. Por ser Alcochete, por ser o concurso de ganadarias de Alcochete, por
serem os forcados de Alcochete…
E em boa hora escolhi esta corrida para o meu “regresso”! Sim, porque
nada melhor que esta corrida para me motivar a ir de novo aos toiros, apesar de
saber que nesta “nossa” festinha nada mudou. Não mudou a atitude dos nossos
empresários que continuam a ser cada vez mais amadores na organização das
corridas (ou se calhar mais poupadores); não mudou a atitude dos nossos
directores de corrida que continuam a permitir a circulação de vendedores pelas
bancadas durante as lides e as constantes “andanças” de fotógrafos pela trincheira
que constantemente distraem o toiro durante as lides, a conceder música a todos
os cavaleiros independentemente do seu mérito, que continuam a permitir voltas
à arena sem que os intervenientes as mereçam, etc. etc. E como se isto não
bastasse agora até já aos cavalos é concedido o prémio de dar a volta ao ruedo. Confesso que não gosto. Parece-me
mais uma coisa de rejoneodores, como
outras que se vão implementando nos hábitos dos “nossos” cavaleiros.
Bem mas isto sou só eu a desabafar… Por isso passemos à narrativa.
Quando cheguei a Alcochete para adquirir os bilhetes para a corrida e vi
os pesos dos toiros pensei: «bem isto já não é como “antigamente”, em que
víamos neste concurso pesos na ordem dos seiscentos e mais quilos». Mas
confesso que também, de imediato me veio ao pensamento aquela máxima de que os
toiros não se medem aos quilos. E pronto, lá esqueci o cartaz que continha a
identificação dos toiros a concurso…
Por falar em toiros, há já muito que não via um bravo como o de José
Pereira Palha, logo o primeiro desta ganadaria que vi numa corrida. Se todos
forem assim, venham mais destes para ver se alguma coisa muda! Que saudades
tinha de ver um bravo como este! Que “grande” toiro!
E que saudades tinha de voltar a ver o Maestro António a tourear… E não
só a tourear o toiro, mas a mostrar como deve um toureiro estar em praça. António Palha
Ribeiro Telles é um Homem Toureiro em tudo o que faz: a conduzir a montada, a
colocar o toiro, a cravar, dando a mesma importância tanto aos ferros compridos
como aos curtos, a saber sair no momento certo (sem procurar que o público que
está junto da porta dos cavalos peça mais um ferro), a dar a volta à arena
apenas quando considera que é merecida (não se “pendurando” no forcado nem
procurando dar uma segunda volta após uma grande lide, como foi o caso da sua
segunda), a ter a humildade de sair pela “porta dos forcados” quando a estes a
pega não correu da melhor forma e tiveram a dignidade toureira de recusar a
volta. Enfim, que saudades tinha de ver este grande Maestro Toureiro. Obrigado
Mestre António por me ter voltado a fazer sentir vontade de ir aos toiros!
Como se isto não fosse suficiente tive ainda o privilégio de assistir a
uma grande lide de Vítor Ribeiro, uma daquelas a moda antiga (das que ele
costumava fazer…), perante um toiro de bandeira, com ferros de criar molas
debaixo do rabo (perdoem-me a palavra, mas foi mesmo isto que me aconteceu em
quase todos os ferros desta última lide). Pena foi aquela “chamada”do Nicotina
para a volta à arena…mas pronto, há quem goste e há coisas bem piores neste
“nosso” toureio a cavalo.
Quanto a Rouxinol, apenas retive aquela mal dada volta à arena, que se
tornou bem pior depois daquela enorme pega do Nuno Santana. E também as pegas
me trouxeram à memória as grandes pegas a que assisti nos concursos de
ganadarias nesta praça. Obrigado Ruben, obrigado Belmonte, obrigado Tomás,
obrigado Vasco, obrigado grupo de Alcochete por também vocês fazerem de novo
renascer em mim o gosto em assistir às corridas de toiros à portuguesa!...
Bem e não me quero alongar mais, que quem quiser ler este meu desabafo
não merece que eu esteja a massacrá-lo.
Espero ter vertido nestas linhas o que senti nesta tarde…
Esta foi só para matar saudades…e, como diria o poeta, que saudades Deus
meu!
Por: Catarina Afonso
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