Que saudades, Deus meu






[ Alcochete, 10 de Agosto de 2014 ]

Cada vez me custa mais contribuir para esta “nossa” Festa (e fiquem sabendo que a minha contribuição ao longo da minha ainda curta vida de aficionada tem já acumulados vários milhares de euros). Mesmo assim, tinha já decidido que seria no concurso de ganadarias de Alcochete que voltaria a estas “lides”. Por ser Alcochete, por ser o concurso de ganadarias de Alcochete, por serem os forcados de Alcochete…
E em boa hora escolhi esta corrida para o meu “regresso”! Sim, porque nada melhor que esta corrida para me motivar a ir de novo aos toiros, apesar de saber que nesta “nossa” festinha nada mudou. Não mudou a atitude dos nossos empresários que continuam a ser cada vez mais amadores na organização das corridas (ou se calhar mais poupadores); não mudou a atitude dos nossos directores de corrida que continuam a permitir a circulação de vendedores pelas bancadas durante as lides e as constantes “andanças” de fotógrafos pela trincheira que constantemente distraem o toiro durante as lides, a conceder música a todos os cavaleiros independentemente do seu mérito, que continuam a permitir voltas à arena sem que os intervenientes as mereçam, etc. etc. E como se isto não bastasse agora até já aos cavalos é concedido o prémio de dar a volta ao ruedo. Confesso que não gosto. Parece-me mais uma coisa de rejoneodores, como outras que se vão implementando nos hábitos dos “nossos” cavaleiros.
Bem mas isto sou só eu a desabafar… Por isso passemos à narrativa.
Quando cheguei a Alcochete para adquirir os bilhetes para a corrida e vi os pesos dos toiros pensei: «bem isto já não é como “antigamente”, em que víamos neste concurso pesos na ordem dos seiscentos e mais quilos». Mas confesso que também, de imediato me veio ao pensamento aquela máxima de que os toiros não se medem aos quilos. E pronto, lá esqueci o cartaz que continha a identificação dos toiros a concurso…
Por falar em toiros, há já muito que não via um bravo como o de José Pereira Palha, logo o primeiro desta ganadaria que vi numa corrida. Se todos forem assim, venham mais destes para ver se alguma coisa muda! Que saudades tinha de ver um bravo como este! Que “grande” toiro!
E que saudades tinha de voltar a ver o Maestro António a tourear… E não só a tourear o toiro, mas a mostrar como deve um toureiro estar em praça. António Palha Ribeiro Telles é um Homem Toureiro em tudo o que faz: a conduzir a montada, a colocar o toiro, a cravar, dando a mesma importância tanto aos ferros compridos como aos curtos, a saber sair no momento certo (sem procurar que o público que está junto da porta dos cavalos peça mais um ferro), a dar a volta à arena apenas quando considera que é merecida (não se “pendurando” no forcado nem procurando dar uma segunda volta após uma grande lide, como foi o caso da sua segunda), a ter a humildade de sair pela “porta dos forcados” quando a estes a pega não correu da melhor forma e tiveram a dignidade toureira de recusar a volta. Enfim, que saudades tinha de ver este grande Maestro Toureiro. Obrigado Mestre António por me ter voltado a fazer sentir vontade de ir aos toiros!
Como se isto não fosse suficiente tive ainda o privilégio de assistir a uma grande lide de Vítor Ribeiro, uma daquelas a moda antiga (das que ele costumava fazer…), perante um toiro de bandeira, com ferros de criar molas debaixo do rabo (perdoem-me a palavra, mas foi mesmo isto que me aconteceu em quase todos os ferros desta última lide). Pena foi aquela “chamada”do Nicotina para a volta à arena…mas pronto, há quem goste e há coisas bem piores neste “nosso” toureio a cavalo.
Quanto a Rouxinol, apenas retive aquela mal dada volta à arena, que se tornou bem pior depois daquela enorme pega do Nuno Santana. E também as pegas me trouxeram à memória as grandes pegas a que assisti nos concursos de ganadarias nesta praça. Obrigado Ruben, obrigado Belmonte, obrigado Tomás, obrigado Vasco, obrigado grupo de Alcochete por também vocês fazerem de novo renascer em mim o gosto em assistir às corridas de toiros à portuguesa!...
Bem e não me quero alongar mais, que quem quiser ler este meu desabafo não merece que eu esteja a massacrá-lo.
Espero ter vertido nestas linhas o que senti nesta tarde…
Esta foi só para matar saudades…e, como diria o poeta, que saudades Deus meu!


Por: Catarina Afonso

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