Depois de me encher de toureio na corrida de domingo, uma nova alma
renasceu em mim e não consegui resistir a mais uma corrida da feira taurina de
Alcochete, a fazer-me lembrar tempos idos em que passava uma semana nesta linda
vila, por ocasião das festas de barrete verde e não perdia uma corrida. Bons
tempos aqueles em que ainda acreditava piamente em tudo o que rodeia o mundo da
tauromaquia em Portugal.
Não é que hoje tenha perdido a minha fé taurina, mas já não acredito
em tudo.
Nesses tempos até consideraria que o cartel desta noite era imperdível em
todos os aspetos. Neste momento, mesmo com a alma cheia de toureio, apenas a
despedida do enorme forcado que é João Salvação constituía motivo para não
perder esta corrida.
Dos toiros de José Lupi não há muito para contar, nem bem nem mal… Ou,
como é da praxe taurina, pode dizer-se que cumpriram. Mas, como disse já por
várias vezes, eu de toiros percebo muito pouco (mas gosto muito). Ainda assim,
e correndo o risco de estar para aqui a dizer asneiras, em termos de
apresentação, os primeiro e quarto não me pareceram rematados e gostei
especialmente do quinto da ordem. O que menos cumpriu em termos de
comportamento foi o segundo da noite.
Quanto aos cavaleiros também não me vou alongar, pois que, depois dos
momentos que vivi na corrida anterior, seria difícil qualquer repetição ou uma
qualquer semelhança que fosse.
Da atuação de Rui Fernandes guardei na memória ( e no papel, claro) o 3º
curto da sua primeira lide e a forma como soube sair no final da segunda. Do
restante retive a ideia de que houve menos influências rejoneadoras no toureio que praticou, o que, para mim, já é algo de
muito positivo.
A João Moura Jr já o vi fazer melhor, sendo que é o que mais aprecio na
casa Moura. Sem que tenha estado mal, o que mais me tocou na sua primeira lide
foi a preparação de um ferro que, infelizmente falhou: cite de praça a praça e
reunião emocionante, dando vantagens ao toiro. Da lide ao segundo que nesta
noite lhe tocou em sorte, nada de especial a registar, a não ser que poderia
ter aproveitado o toiro mais encastado da corrida.
João Telles durante a lide ao segundo da noite esteve muito bem na brega,
o que é apanágio das “gentes” da Torrinha e, quanto a mim, cravou o ferro da
noite, o terceiro curto, com cite de praça a praça, dando amplas vantagens,
aguentando até ao limite e cravando em terrenos de tábuas. No seu último e
último da noite, não gostei de o ver nos compridos, melhorando a execução dos
ferros curtos. Surpreendeu-me positivamente o facto de não ter exibido um dos
seus números habituais: violino seguido de palmo.
No que às pegas diz respeito, faltou a emoção do toiro toiro tão
característica de Alcochete, o que equivale a dizer que os toiros não impuseram
grandes dificuldades à forcadagem do Aposento do Barrete Verde. O novo cabo,
Marcelo Lóia, iniciou a noite de pegas. Esteve bem no cite e a recuar,
conseguindo uma boa reunião, com o grupo a ajudar de forma coesa e sem que o
toiro complicasse. Para o segundo da noite saiu César Nunes que perante a
arrancada pronta do toiro, esteve mal a recuar e a reunir, saindo da cara. Na
segunda tentativa, apesar de não ter reunido da melhor forma, conseguiu
aguentar bem na cara do toiro e, com as ajudas a tardarem, conseguiu consumar a
pega. Alfredo Caballero saltou para a terceira pega e apesar de não ter estado bem a mandar vir o
toiro, recuou e reuniu muito bem e consumou uma boa pega. O quarto da ordem foi
pegado por Bruno Amaro à segunda tentativa. Na primeira não conseguiu
agarrar-se, mas emendou bem na segunda entrada ao toiro conseguindo uma boa
pega. João Salvação despediu-se das arenas a pegar o quinto da noite. O toiro
saiu de pronto e com pata, mal avistou o forcado, este recebeu-o muito bem,
como ele sempre soube fazer e consumou a pega, com o grupo ajudar bem.
E aqui assisti ao grande momento da corrida: a despedida desse grande
forcado, que ficará para sempre na memória dos bons aficionados. Bonito e
emocionante foi ver a praça cheia toda de pé a aplaudir um
forcado…indescritível!
António Gomes encerrou a noite de pegas, consumando também ele à primeira
tentativa, sem grandes dificuldades, apesar de não ter recebido o toiro da
melhor forma.
E pronto, lá estive eu novamente em mais uma corrida, cujo aliciante que
previa no início foi o único que valeu a pena: a despedida desse enorme
forcado que é João Salvação, por todos os aficionados conhecido como o “Ninan”.
Obrigado forcadão por mais este grande momento!
Por: Catarina
Afonso
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