Um 15 de Agosto pouco taurino


O dia mais taurino do ano levou-me, desta vez, a Reguengos, para presenciar a tradicional corrida de toiros. Cartel aliciante, com dois cavaleiros figuras do toureio a cavalo nacional e um jovem que muito promete. Em acesa competição, dois grupos de forcados alentejanos, também com pergaminhos firmados no mundo das pegas em Portugal.

Os toiros pertenciam à ganadaria de Ortigão Costa, estavam bem apresentados, mas justos de forças e para o manso, exigindo labor aos cavaleiros e forcados.

Rui Salvador abriu praça, perante um exemplar muito reservado. Não começou da melhor forma, mas à custa de muito porfiar, terminou em bom plano, saindo por cima do seu oponente, com a colocação de dois bons ferros curtos no final da sua lide. Perante o seu segundo, um toiro que acusou alguma falta de força, as coisas também não lhe correram bem. Sem toiro no momento da reunião, deixou ferros em sortes mais aliviadas (1º e 4º), um deles caiu (o 3º), o que não o impediu de escutar música, e os restantes resultaram corretos na execução.

João Salgueiro veio mostrar que é um verdadeiro génio do toureio a cavalo na lide do seu primeiro toiro, segundo da ordem. Apenas não gosto de o ver conduzir as montadas sempre com as duas mãos nas rédeas. Um grande ferro comprido (o 2º), de praça a praça, bem ao seu estilo e dois curtos (os 1º e 2º) em sortes cingidas e emotivas, com cravagem de alto a baixo e ao estribo, bastaram para construir uma grande lide. Com o toiro a vir a menos, os dois últimos curtos resultaram menos cingidos. Perante o seu segundo, mais reservado, a preferir terrenos de tábuas e a esperar no momento do ferro, o cavaleiro da Valada viu-se obrigado a passar em falso por várias vezes e a ferragem resultou menos vistosa e menos correta. Ainda assim, nos curtos, o 2º e 4º ferros (este último a sesgo) foram dois bons ferros.

João Maria Branco marcou mais alguns pontos na sua ainda curta trajetória como cavaleiro. Senhor de uma boa brega, teve o senão de se preocupar em demasia com o público, para onde corria a provocar os aplausos após cada ferro. No primeiro do seu lote cravou dois compridos e cinco curtos, que alternaram entre o bom (1º e 4ºcurtos) e outros de cravagem mais aliviada nas reuniões. Na lide que encerrou a corrida a toada manteve-se, diante de um toiro distraído e que procurava terrenos de tábuas, sendo de destacar os 2º e 3º curtos, de boa execução.

Para as pegas, dois grupos vizinhos em competição. Pelo grupo de Montemor abriu praça João Pedro Tavares que, mesmo não conseguindo uma reunião perfeita (viajou com uma perna por cima do piton do toiro), aguentou os derrotes altos do toiro, recebeu uma boa ajuda e os restantes elementos fecharam com coesão. João Caldeira saiu para pegar o terceiro da ordem. Muito bem no cite, não conseguiu contudo aguentar os derrotes do toiro e só à terceira tentativa, com ajudas carregadas, conseguiu concretizar a pega. Muito bem, no final, a recusar a volta à arena. Frederico Caldeira foi o escolhido para a terceira pega dos de Montemor ao quinto toiro da tarde. Ao primeiro intento não conseguiu reunir, mas no segundo corrigiu, reuniu bem e consumou uma boa e rija pega, com o grupo a ajudar com muita coesão.

Pelos de Évora iniciou Ricardo Casasnovas que esteve bem no cite, mandou vir, reuniu corretamente e, com o toiro a desviar a trajetória do grupo, consumou uma boa pega, bem ajudado, sem que o seu oponente complicasse. João Pedro Oliveira foi o forcado “eleito” para a pega ao quarto da ordem. O toiro saiu de pronto e o forcado recuou até ao seio do grupo, onde reuniu, consumando a pega sem grandes dificuldades. José Pereira encerrou a tarde de pegas. Muito bem no cite, mandou vir, reuniu bem, fez a viagem até tábuas e aí o grupo fechou bem e consumou uma boa pega.

Destaque, pela negativa, para a entrada e saída de espectadores durante as lides sem que o pessoal de serviço nas portas interviesse. Parece até que os empresários têm maior preocupação com as saídas e entradas de acesso à praça (são essas que “dão” dinheiro…) do que com a saída e entrada nas portas de acesso às bancadas.

Por: Catarina Afonso

Reguengos de Monsaraz - Fotografias







Um momento de verdade...


Segunda corrida da feira taurina de Alcochete, integrada nas Festas do Barrete Verde e das salinas, esta também com alguns aliciantes: seis cavaleiros, com conceitos de toureio variados e, destes, um, João Salgueiro da Costa, que tinha curiosidade em ver depois do triunfo recentemente alcançado numa corrida televisionada; uma ganadaria espanhola que pela primeira vez pisava a arena de uma praça de toiros em Portugal; e um grupo de forcados mexicano que ainda não tinha visto atuar.

Os toiros, da ganadaria espanhola de Hato Blanco, com exceção do primeiro e quinto, foram mansos, muito reservados e denotando muito sentido, a criar muitas dificuldades a cavaleiros e forcados.

Rui salvador não esteve nos seus melhores dias, perante um dos toiros que, apesar de tudo, mais colaborou. Não esteve bem nos compridos e, nos curtos nem sempre cravou com correção. Valeu o esforço que sempre coloca naquilo que faz.

Sónia Matias teve pela frente um manso, distraído e muito reservado e fez o que pôde. Da ferragem que colocou, aproveitaram-se os segundo e terceiro ferros curtos de maior correção. Os restantes resultaram pescados e/ou a cilhas passadas.

A Gilberto Filipe tocou o toiro mais pesado da corrida e também um dos mais complicados. Não esteve mal nos compridos, mas, nos curtos esteve francamente mal. Apenas o quinto ferro foi cravado com alguma correção. Os restantes foram sempre colocados bem para lá do estribo e em sortes aliviadas. A finalizar foi protagonista de mais um dos episódios que infelizmente vão acontecendo cada vez com mais frequência nas nossas praças. Depois do primeiro aviso, cravou um palmo que nada adiantou ao que havia feito e, com a conivência do diretor de corrida, tentou, por três vezes(!!!) cravar um par de bandarilhas, que não conseguiu. Reconheceu o que havia feito e, muito bem, recusou a volta à arena.

Tomás Pinto também não teve a lide que certamente desejava. Nos compridos, despachou o primeiro, o segundo foi de maior correção e o terceiro sem importância. Dos curtos, apenas se aproveitou o primeiro. Os restantes foram a cilhas passadas e aliviados (2º, 4º e 5º) ou errou o toiro (3º). Finalizou com um violino à garupa, muito aplaudido pelo público presente.

João Salgueiro da Costa brindou o público com os melhores momentos da noite e, talvez dos melhores da temporada. Três bons ferros compridos abriram a sua atuação, sendo o segundo um grande ferro, pleno de emoção, deixando a impressão de que a colhida seria eminente, tal a justeza da reunião. Um grande ferro que deveria de imediato ter feito soar a música, o que apenas aconteceu (já não é mau…) após a cravagem do terceiro comprido. Nos curtos as coisas não correram tão bem, mas no meio de um ferro de colocação mais defeituosa e de outro em que falhou o toiro, deixou dois ferros muito bons, os segundo e terceiro. Grande lide!...

A encerrar a corrida esteve o também praticante João Maria Branco a quem também já vimos melhor. Ferros pescados (o primeiro comprido), muito aliviados na reunião (1º e 2º curtos) e passados do estribo (4º, 5º e 6º), constituíram uma lide que deixou muito a desejar, pese embora a sua idade e estatuto.

Se para os cavaleiros a noite não foi fácil, para os forcados foi também muito complicada. Iniciou a noite de pegas o forcado Rui Gomes, do Grupo de Forcados do Aposento Verde de Alcochete que concretizou a pega à segunda tentativa, depois de na primeira ter saído já no meio do grupo, que não conseguiu ajudar, já que o toiro metia a cara muito em baixo. João Salvação, cabo do grupo, saiu para pegar o terceiro e mais pesado da noite. O toiro saiu solto e com muita pata e o forcado saiu com um forte derrote. No segundo intento, com braços de ferro, concretizou uma grande pega, com o grupo a mostrar enorme coesão nas ajudas (sem necessidade de ajudas extra…). A encerrar a noite de pegas pelo grupo da terra saltou Marcelo Lóia, que esteve bem no cite e, embora a reunião não acontecesse da melhor forma, aguentou bem a viagem por alto até às tábuas, onde o grupo fechou bem (se bem que, desta vez, com ajuda extra).

Alejandro Martinez iniciou da melhor forma a actuação do grupo de forcados de Queretaro, do México. O segundo toiro da noite saiu com muita pata, o forcado reuniu bem, aguentou fortes derrotes e o grupo fechou com grande coesão nas ajudas. Para a pega ao quarto da ordem foi escolhido Antonio Vera, que, após seis tentativas(!) e com 11 forcados (dos dois grupos) em praça, não conseguiu concretizar a pega, deixando o toiro ir “vivo” para os curros. A Juan Leal coube encerrar a noite de pegas e, com 4 ajudas do grupo de Alcochete (não tinham já elementos suficientes), concretizou a pega ao primeiro intento, bem ajudado pelos restantes elementos e sem que o toiro complicasse muito a sua tarefa.

Por: Catarina Afonso

Forcado que é forcado, é forcado a vida inteira...



Não nos lembramos de dias, lembramo-nos de momentos…


Mais um ano, mais um segundo fim-de-semana de agosto e mais uma presença nas festas do barrete verde e das salinas em Alcochete, festas a que não falto desde há já cerca de dez anos.
Também desde essa data que não perco a corrida do concurso de ganadarias, marco histórico das minhas “lides” tauromáquicas. Este ano, não sei se pela crise (crise interna dos toiros e crise financeira do país), não me deixou gratas recordações, a não ser um dos momentos, em que a emoção foi tão forte que me levou às lágrimas. Custa (mas tem que acontecer) ver a despedida de um grande (enorme!...) forcado que vimos pegar tantas e tantas vezes e tão bem. Olé José Miguel Barbosa (Vinagre)!!!
Quanto aos toiros, apenas dois foram dignos deste concurso, tendo como referência todos os anteriores a que assisti. O primeiro foi enviado pela ganadaria da Condessa de Sobral, pesava 550 Kg, e estava bem apresentado, a condizer com um evento desta natureza. Quanto a comportamento, deu bom jogo e deixou-se lidar.
O exemplar da ganadaria de Branco Núncio, saído em segundo lugar não era digno dum concurso de ganadarias com este prestígio e com esta tradição. Pequenote, acusou o peso de 485 Kg, e denotou muita falta de força, para além de não estar rematado. Apresentação inferior numa corrida como esta…
O terceiro da ordem pertencia à ganadaria de Pinto Barreiros, estava bem apresentado (embora considere que este concurso merece melhor), pesava 520 Kg e foi o vencedor do prémio bravura, se bem que, ao contrário do que estava habituada, não tivesse havido um toiro verdadeiramente bravo.
A abrir a segunda parte da corrida saiu um toiro de José Lupi, com o peso de 525 Kg, com pouco trapio, distraído em demasia e sem ponta de transmissão.
O toiro de Conde de Cabral saído em quinto lugar trouxe-me muitas saudades do exemplar que no ano anterior aqui foi apresentado. Este, com o peso de 495 Kg, tinha uma nítida falta de força e nada transmitia.
A encerrar, um exemplar da ganadaria Murteira Grave, de apresentação excelente (e, por isso, justo vencedor do prémio apresentação), com o peso de 540 Kg, mas que, quanto a mim, estava um pouco gordo demais, o que lhe retirou alguma mobilidade.
Quanto aos cavaleiros, a tarde foi morna e sem ponta de emoção. Abriu praça António Ribeiro Telles, que perante um toiro que se adiantava muito, conseguiu, com a sua brega exemplar, corrigir-lhe um pouco a investida, e, no final, deixar dois bons ferros curtos, com destaque para o penúltimo, um ferro à maestro. No seu segundo, manso, distraído e desinteressado pelo cavalo, não conseguiu sobrepor-se ao seu oponente (ele que quase sempre pode com os mansos…) e as coisas não resultaram da forma a que estou habituada.
Rui Fernandes foi o cavaleiro mais aplaudido da tarde. Não sabemos porquê, mas foi. Até parece que quanto pior é o toureio praticado, mais aplausos o público lhe tributa… No seu primeiro, conduzindo sempre as montadas com as duas mãos nas rédeas (exceto aquando da cravagem dos ferros, mas também é só já o que falta…), deixou os ferros em sortes aliviadas, precedidas de batidas ao piton contrário, por vezes muito pronunciadas e a colocação resultou quase sempre para lá da cilha. No segundo do seu lote a sua prestação desceu ainda mais de nível, embora os aplausos do público fizessem parecer o contrário. Quiebros e mais quiebros e ferros em reuniões aliviadas e à garupa constituíram grande parte da sua lide. No final (para acabar em ambiente de triunfo) deixou dois meios pares de bandarilhas á garupa, muito aplaudidos por grande parte do público presente.
A Francisco Palha vi um toureio algo irregular, com alguns (poucos) ferros de boa nota (os 3º e 4º curtos da sua primeira lide) e outros (a grande maioria) de nota negativa. Ora a reunião acontecia de frente, ora com o quarteio aberto cedo demais, ora precedida de batida pronunciada ao pitón contrário, mas tudo sem ponta de emoção…
No último da corrida o destaque vai para a quantidade de ferros (dez!!!) colocados, com a anuência da diretora de corrida estagiária, numa lide aborrecida e muito prolongada. É caso para dizer que, mudam os diretores, mas, pelos vistos, tudo vai continuar igual…
Como é tradição e constituindo para mim um aliciante deste concurso, para as pegas apenas um grupo de forcados, os amadores de Alcochete. A abrir a tarde saltou Bruno Pardal (em boa hora regressado às pegas…), que fez tudo bem e consumou uma boa pega, com o grupo a ajudar bem. Para pegar o segundo saiu Fernando Quintella, que, com um cite muito sereno, a interessar o toiro, mandou vir e fechou-se muito bem, recebendo uma grande ajuda de João Rei e com os restantes elementos do grupo a ajudar com coesão. E para executar a terceira pega saiu, em despedida, José Miguel Barbosa (Vinagre), num grande (e único) momento de emoção. As coisas não lhe correram tão bem como certamente desejava (o toiro adiantava um piton colhendo o forcado no peito) e só à terceira tentativa e com as ajudas em cima conseguiu concretizar a pega da sua despedida. Nuno Santana não esteve bem a receber o toiro nos dois primeiros intentos e só à terceira tentativa, com ajudas carregadas, conseguiu concretizar a pega. Mesmo assim, no final, saiu para a volta (imerecida). Ruben Duarte executou, quanto a mim, a melhor pega da tarde. Perante um toiro reservado, pisou terrenos de muito compromisso, provocou-lhe a investida, recuou e reuniu muito bem, concretizando uma muito boa pega, com o grupo, mais uma vez a mostrar grande coesão nas ajudas. A encerrar a tarde de pegas saiu Pedro Belmonte, que citou e reuniu bem, aguentou a viagem por baixo, até à chegada das ajudas, que fecharam com coesão.
No final, uma nota de agradecimento para esse grande forcado que é José Miguel Vinagre e para o momento de grande emoção que me proporcionou. Na vida são estes momentos que perduram…

Por: Catarina Afonso

Alcochete - Momentos (12.Ago.2012)








E o prémio para a melhor pega foi para…


Depois de mais uma corrida de toiros em que foram atribuídos prémios para a melhor lide e para a melhor pega, sou tentada a manifestar a minha opinião, que vem já de há muito e que cada vez mais se consolida: inseridos numa corrida de toiros e nos moldes em que atualmente se atribuem, sou contra a existência de prémios.

Mas antes quero referir que não percebo nada da arte de pegar toiros, mas que, nos dias que correm, são os grupos de forcados que me levam ainda a marcar presença em algumas praças de toiros para presenciar uma corrida.

Se, relativamente ao prémio denominado para a melhor lide, não há muito a fazer a não ser concordar ou não concordar com a escolha do júri (quando existe), já em relação ao prémio para a melhor pega, gostaria de deixar alguns pontos para reflexão…

Antes da corrida na qual se vai disputar o prémio, deve esclarecer-se o público sobre o que é que se considera uma pega no caso concreto. Se é o desempenho do forcado da cara durante a pega ou se é o desempenho de todos os elementos do grupo que saltam à arena para tentar pegar o toiro. Só assim se pode avaliar corretamente a decisão do júri e comparar e discutir essa mesma decisão. É que já vi pegas em que o forcado da cara está muito bem, mas os restantes elementos estão menos bem ou até mal e é atribuído, nestas condições, o prémio para a melhor pega. Ou então o forcado da cara brilha mais porque as ajudas estão menos bem e o deixam sozinho na cara do toiro durante mais tempo. Na minha humilde e ignorante opinião, em situações destas o prémio deveria ser atribuído ao melhor forcado da cara e não à melhor pega, pois considero que uma pega deve ser avaliada através do comportamento de todos os elementos do grupo e não só do forcado que vai à cara do toiro.

Por isso é que, muitas vezes, quando é atribuído o prémio para a melhor pega eu considero que foi mal atribuído, pois o grupo, no seu conjunto, não esteve bem e, muitas vezes até que há violação das mais elementares normas da arte de pegar toiros, como é o caso do número de elementos que participam na pega.(Nestes casos, penso até que deveria estar prevista uma penalização para os grupos que, na realização duma pega, utilizam mais do que o número regulamentar de elementos previsto).

Só assim haveria mais rigor na apreciação e na atribuição de prémios para a melhor pega, ou para o melhor grupo ou para o melhor forcado da cara (este que nunca vi ser atribuído) e evitar-se-iam muitas discussões que, muitas vezes, mais parecem discussões sobre o sexo dos anjos…

Por: Catarina Afonso