Não nos lembramos de dias, lembramo-nos de momentos…


Mais um ano, mais um segundo fim-de-semana de agosto e mais uma presença nas festas do barrete verde e das salinas em Alcochete, festas a que não falto desde há já cerca de dez anos.
Também desde essa data que não perco a corrida do concurso de ganadarias, marco histórico das minhas “lides” tauromáquicas. Este ano, não sei se pela crise (crise interna dos toiros e crise financeira do país), não me deixou gratas recordações, a não ser um dos momentos, em que a emoção foi tão forte que me levou às lágrimas. Custa (mas tem que acontecer) ver a despedida de um grande (enorme!...) forcado que vimos pegar tantas e tantas vezes e tão bem. Olé José Miguel Barbosa (Vinagre)!!!
Quanto aos toiros, apenas dois foram dignos deste concurso, tendo como referência todos os anteriores a que assisti. O primeiro foi enviado pela ganadaria da Condessa de Sobral, pesava 550 Kg, e estava bem apresentado, a condizer com um evento desta natureza. Quanto a comportamento, deu bom jogo e deixou-se lidar.
O exemplar da ganadaria de Branco Núncio, saído em segundo lugar não era digno dum concurso de ganadarias com este prestígio e com esta tradição. Pequenote, acusou o peso de 485 Kg, e denotou muita falta de força, para além de não estar rematado. Apresentação inferior numa corrida como esta…
O terceiro da ordem pertencia à ganadaria de Pinto Barreiros, estava bem apresentado (embora considere que este concurso merece melhor), pesava 520 Kg e foi o vencedor do prémio bravura, se bem que, ao contrário do que estava habituada, não tivesse havido um toiro verdadeiramente bravo.
A abrir a segunda parte da corrida saiu um toiro de José Lupi, com o peso de 525 Kg, com pouco trapio, distraído em demasia e sem ponta de transmissão.
O toiro de Conde de Cabral saído em quinto lugar trouxe-me muitas saudades do exemplar que no ano anterior aqui foi apresentado. Este, com o peso de 495 Kg, tinha uma nítida falta de força e nada transmitia.
A encerrar, um exemplar da ganadaria Murteira Grave, de apresentação excelente (e, por isso, justo vencedor do prémio apresentação), com o peso de 540 Kg, mas que, quanto a mim, estava um pouco gordo demais, o que lhe retirou alguma mobilidade.
Quanto aos cavaleiros, a tarde foi morna e sem ponta de emoção. Abriu praça António Ribeiro Telles, que perante um toiro que se adiantava muito, conseguiu, com a sua brega exemplar, corrigir-lhe um pouco a investida, e, no final, deixar dois bons ferros curtos, com destaque para o penúltimo, um ferro à maestro. No seu segundo, manso, distraído e desinteressado pelo cavalo, não conseguiu sobrepor-se ao seu oponente (ele que quase sempre pode com os mansos…) e as coisas não resultaram da forma a que estou habituada.
Rui Fernandes foi o cavaleiro mais aplaudido da tarde. Não sabemos porquê, mas foi. Até parece que quanto pior é o toureio praticado, mais aplausos o público lhe tributa… No seu primeiro, conduzindo sempre as montadas com as duas mãos nas rédeas (exceto aquando da cravagem dos ferros, mas também é só já o que falta…), deixou os ferros em sortes aliviadas, precedidas de batidas ao piton contrário, por vezes muito pronunciadas e a colocação resultou quase sempre para lá da cilha. No segundo do seu lote a sua prestação desceu ainda mais de nível, embora os aplausos do público fizessem parecer o contrário. Quiebros e mais quiebros e ferros em reuniões aliviadas e à garupa constituíram grande parte da sua lide. No final (para acabar em ambiente de triunfo) deixou dois meios pares de bandarilhas á garupa, muito aplaudidos por grande parte do público presente.
A Francisco Palha vi um toureio algo irregular, com alguns (poucos) ferros de boa nota (os 3º e 4º curtos da sua primeira lide) e outros (a grande maioria) de nota negativa. Ora a reunião acontecia de frente, ora com o quarteio aberto cedo demais, ora precedida de batida pronunciada ao pitón contrário, mas tudo sem ponta de emoção…
No último da corrida o destaque vai para a quantidade de ferros (dez!!!) colocados, com a anuência da diretora de corrida estagiária, numa lide aborrecida e muito prolongada. É caso para dizer que, mudam os diretores, mas, pelos vistos, tudo vai continuar igual…
Como é tradição e constituindo para mim um aliciante deste concurso, para as pegas apenas um grupo de forcados, os amadores de Alcochete. A abrir a tarde saltou Bruno Pardal (em boa hora regressado às pegas…), que fez tudo bem e consumou uma boa pega, com o grupo a ajudar bem. Para pegar o segundo saiu Fernando Quintella, que, com um cite muito sereno, a interessar o toiro, mandou vir e fechou-se muito bem, recebendo uma grande ajuda de João Rei e com os restantes elementos do grupo a ajudar com coesão. E para executar a terceira pega saiu, em despedida, José Miguel Barbosa (Vinagre), num grande (e único) momento de emoção. As coisas não lhe correram tão bem como certamente desejava (o toiro adiantava um piton colhendo o forcado no peito) e só à terceira tentativa e com as ajudas em cima conseguiu concretizar a pega da sua despedida. Nuno Santana não esteve bem a receber o toiro nos dois primeiros intentos e só à terceira tentativa, com ajudas carregadas, conseguiu concretizar a pega. Mesmo assim, no final, saiu para a volta (imerecida). Ruben Duarte executou, quanto a mim, a melhor pega da tarde. Perante um toiro reservado, pisou terrenos de muito compromisso, provocou-lhe a investida, recuou e reuniu muito bem, concretizando uma muito boa pega, com o grupo, mais uma vez a mostrar grande coesão nas ajudas. A encerrar a tarde de pegas saiu Pedro Belmonte, que citou e reuniu bem, aguentou a viagem por baixo, até à chegada das ajudas, que fecharam com coesão.
No final, uma nota de agradecimento para esse grande forcado que é José Miguel Vinagre e para o momento de grande emoção que me proporcionou. Na vida são estes momentos que perduram…

Por: Catarina Afonso

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