E o prestígio tremeu...



Eram grandes as minhas expectativas em relação à corrida concurso de ganadarias de Évora. Pela antiguidade, pelo prestígio e pela emoção que os toiros sempre têm emprestado em corridas de anos anteriores. Confesso que fiquei um pouco desiludida…
Os toiros não saíram como em temporadas anteriores, em que se viram pegas e lides emocionantes. Neste ano, nesta corrida, vimos toiros sem codícia nos momentos cruciais, a mansearem e sem que nos mostrassem qualquer ponta de emoção com o seu comportamento em praça.
O primeiro toiro da tarde, da ganadaria Palha, saiu inferiorizado dos curros e teve que ser devolvido. Em seu lugar saiu o toiro da ganadaria Murteira Grave, que acusou na balança o peso de 610 kg e estava ferrado com o número 9 na espádua direita. Sempre com a cara alta e perseguindo o cavalo a trote mostrou-se desinteressado e com falta de fijeza, talvez fruto dos notórios defeitos de visão que apresentava. O segundo da tarde pertencia à ganadaria de Veiga Teixeira, pesou 580 kg e também ele estava ferrado com o 9 na espádua. Saiu com muita pata e perseguia o cavalo com codícia, empregando-se nas reuniões. Teve um ou outro “feio”, que, contudo, não deslustrou o seu comportamento. Em terceiro lugar foi lidado um exemplar da ganadaria de Rio Frio, com o peso de 545 kg, e do ano 9, que estava bem apresentado e que teve alguma codícia nos momentos cruciais das sortes. O quarto toiro, sobrero da corrida, veio da ganadaria de S. Torcato e não estava a concurso. Pesou 490 kg, ferrado com o 9 e, em termos de apresentação, tinha pouca cara. Quanto a comportamento, deixou-se lidar e foi colaborante com o cavaleiro. Saiu em quinto lugar um toiro Passanha, com 555 kg, do ano 9 e com pouca cara. Cedo procurou tábuas e só o grande labor do cavaleiro não permitiu que aí permanecesse mais tempo. O último era da ganadaria de S. Torcato, tinha o peso de 505 kg e tinha já cinco anos cumpridos. Raspava constantemente e doeu-se após a cravagem do primeiro ferro. Galopava sempre a par do cavalo e adiantava-se no momento das reuniões.
Quanto às lides a cavalo, iniciou a tarde António Telles que não esteve ao nível a que nos habituou, nomeadamente quanto às reuniões em que esteve um pouco mais aliviado do que é costume e com alguns ferros curtos a caírem. No seu segundo e quarto da tarde, aí sim, esteve em plano superior, quer na brega quer na cravagem dos ferros. Partindo para o toiro sempre em linha reta, deixou bons ferros, de alto a baixo, ao estribo e em reuniões bem cingidas. Uma lide de Maestro!...
Luís Rouxinol esteve bem a preparar as sortes no primeiro do seu lote, mas não tão bem como é costume no momento de cravar, não entrando tanto pelo toiro como habitualmente faz com a Viajante. Terminou com meio par de bandarilhas. No seu segundo, esteve em muito bom plano, não deixando que o toiro descaísse para tábuas e, em cites em curto, deixou bons ferroso curto, um primor…
João Salgueiro sobressaiu na brega que ministrou ao terceiro toiro da tarde. Quanto aos ferros, apenas o último mereceu nota positiva, já que os restantes foram a cilhas passadas (1º, 2º e 4º) ou com toque na montada (3º).  No último da corrida teve uma atuação mais conseguida, com bons ferros, nomeadamente os 2º  e  4º curtos, embora com algumas passagens em falso no início da lide.
Quanto aos forcados, abriu praça o grupo de Évora, por intermédio de João Pedro Oliveira, que teve que pisar os terrenos do toiro, que apenas vinha à voz. Na primeira tentativa empranchou, consumando à segunda entrada, com uma muito boa ajuda do grupo. José Miguel Martins saltou para pegar o segundo da tarde. O toiro saiu mal avistou o forcado, que lhe recuou bem na cara, reuniu de forma correta e consumou uma boa pega, com o grupo a mostrar coesão nas ajudas. Ricardo Sousa foi o escolhido para pegar o último da tarde. O toiro saiu de pronto e com pata, o forcado reúne muito bem, aguenta os primeiros derrotes e consuma uma muito boa pega.
Pelo grupo de Montemor abriu a tarde Francisco Borges que cita de forma superior, entra nos terrenos do toiro, saca-se bem, reúne perfeitamente, aguenta fortes derrotes e consuma uma grande pega. João Caldeira, na pega ao quarto toiro não teve tempo para o cite, já que este se arrancou de imediato, consumando a pega junto a tábuas, no seio do grupo (quanto a mim devia ter desfeito…). Manuel Ramalho encerrou as pegas dos de Montemor. Na primeira tentativa, não reúne da melhor forma, recompôs-se na cara, mas é tirado pelo primeiro ajuda. Consuma à segunda tentativa, apesar de a reunião não ser a melhor, mas aguentando bem os derrotes do toiro.
No final o júri decidiu atribuir o prémio apresentação ao toiro da Ganadaria Passanha e o de bravura ao da ganadaria Veiga Teixeira.
No final da corrida e debaixo de chuva, dei comigo a pensar que, desta vez, no concurso de ganadarias mais antigo de Portugal o seu prestígio ficou um pouco abalado…


Por: Catarina Afonso

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