Que o tempo quente não demore...



Depois de ter presenciado algumas corridas de toiros na vizinha Espanha, nada melhor para iniciar a minha temporada portuguesa do que a vila de Alcochete e a sua tão característica praça de toiros.

Desta vez a minha escolha ficou a dever-se, essencialmente, aos toiros de Infante da Câmara e aos dois grupos de forcados. Se em relação aos toiros as minhas expectativas não foram grandemente defraudadas, no capítulo das pegas o grupo de Montemor não esteve ao nível de outras tardes. Já quanto ao toureio a cavalo, apetece-me dizer que quanto mais vejo, mais saudades tenho do toureio a pé em Espanha…

Os toiros saíram bem apresentados, se bem que díspares de peso (acusaram na balança pesos entre os 480 e os 600 kg) e idade (desde os 4 aos 6 anos). Quanto a comportamento, o destaque vai para o que saiu em 5º lugar um grande toiro, nobre e bravo, a fazer jus ao ditado “no hay quinto malo”.

Rui Salvador continua a acusar algumas falhas de montadas. Mesmo assim, esteve esforçado e conseguiu bons ferros em ambas as lides, intercalados com outros menos conseguidos. Melhor esteve na brega e na preparação das sortes. No primeiro toiro da tarde realce para os 3º e 4º ferros curtos e no último do seu lote ficou-me na retina o excelente 3º curto que merecia música de imediato (mas quem sou eu para opinar sobre isso perante um director de corrida que anda nestas lides há já bastante tempo e que passou alguns anos a pegar toiros?.. Decerto que percebe muito mais de toureio a cavalo do que eu…)

Luís Rouxinol teve, quanto a mim, a melhor lide da tarde, no seu segundo, montado na estrela do toureio a cavalo, a célebre Viajante (é caso para se dizer que quem tem a Viajante toureia e triunfa). Na sua primeira lide destacou-se o segundo ferro comprido, precedido de exímia brega e excelente cravagem. No segundo do seu lote, o primeiro ferro curto foi de levantar as bancadas. Desta vez os pares de bandarilhas, imagem de marca deste cavaleiro, não resultaram como habitualmente.

Marcos Bastinhas destacou-se na lide ao último da fria tarde, com a colocação de três bons ferros curtos (1º, 3º e 4º). Quanto ao resto das suas lides mostrou-se vistoso, com garra e a querer chegar ao público, como é seu apanágio. Um pormenor que retive durante as suas atuações foi o das bandarilhas utilizadas na cravagem dos pares a duas mãos. Pareceram-me mais compridas (o que facilita a “ida” ao toiro) e com menor espessura. Já não chegam as martingalas que constantemente vemos utilizar nas montadas e eis que aparece mais um engano, para não falar do perigo que pode constituir para os forcados (mas, volto a referir, quem sou eu para opinar sobre estas matérias?) …

Quanto às pegas, a tarde começou da melhor forma com uma muito boa pega de Francisco Borges do Grupo de Forcados Amadores de Montemor, com a perfeita marcação de todos os tempos e com o grupo a fechar to muito bem. Frederico Caldeira não conseguiu a pega que por certo desejava perante o terceiro da tarde, um toiro muito reservado, a quem foi preciso entrar nos terrenos e que só saía a toque de capote, Mesmo assim, conseguiu consumar à 2ª tentativa, resolvendo bem o problema que teve pela frente. João Braga não conseguiu dar a volta ao 5º da tarde, que adiantava o piton esquerdo na hora da reunião e só conseguiu concretizar ao 6º intento, uma pega muito pouco ortodoxa.
Os forcados amadores de Alcochete concretizaram todas as pegas ao primeiro intento. A primeira, ao segundo toiro da tarde, esteve a cargo de Fernando Quintela que citou de forma serena, reuniu muito bem e recebeu uma ajuda coesa do grupo. Diogo Timóteo não aguentou bem o toiro, que arrancou com prontidão e mesmo não reunindo da melhor forma, concretizou a pega com boa ajuda dos restantes elementos do grupo. A fechar a tarde de pegas esteve Joaquim Quintela, que citou bem, recebeu ainda melhor, aguentando um ligeiro estranho do toiro ao chegar ao forcado e consumou mais uma boa pega, com o grupo a mostrar grande coesão.

Numa tarde fria, com um público de palminhas, valeu o quinto toiro e a lide que Luís Rouxinol lhe ministrou montado da “grande” Viajante. Esperemos que o tempo mais quente não demore e venha aquecer mais a minha afición…



Por: Catarina Afonso

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