A raça e a valentia de um forcado
Os toiros da ganadaria Palha foram os grandes responsáveis por me ter deslocado a Salvaterra para presenciar mais uma corrida de toiros. Confesso que estava à espera de melhor. Outros dos responsáveis por esta minha deslocação foram os grupos de forcados que actuavam nessa noite. E, neste capítulo não houve desilusão…mais que não fosse pela última pega do grupo de Montemor realizada pelo forcado Francisco Borges, pega de raça e valentia e que valeu bem a corrida.
No que toca à apresentação, os toiros Palha deixaram algo a desejar…Os três primeiros eram indignos de pisar a arena. Como alguém, ao meu lado dizia, “esta ganadaria até trata bem os toiros”… pelo que que não havia razão que justificasse a sua apresentação: o primeiro selado, o segundo pequenote e o terceiro sem cara. Valeram os últimos três, bem melhor apresentados. Quanto a comportamento revelaram-se difíceis e o último foi um manso perdido. De terroríficos nada tinham…
No que ao toureio a cavalo diz respeito, Rui Salvador foi o que de melhor vi nesta noite, melhor no seu segundo do que no que abriu praça, em que foram manifestas algumas dificuldades e em que houve demasiadas intervenções dos seus bandarilheiros. Acabou, no entanto, em bom plano. No segundo do seu lote foi evidente a boa brega ministrada ao toiro, com destaque para a preparação das sortes. Lide muito boa, onde pôde mostrar a raça que o caracteriza e que, quanto a mim justamente, venceu o prémio para a melhor lide.
A Ana Batista já lhe vi bem melhor… Muito aliviada nas reuniões, a cravar quase sempre para lá da cilha e, algumas vezes até para lá da garupa, não está a tourear como em épocas passadas. De tudo o que vi destaque pela positiva para o quarto ferro curto da sua primeira actuação, em que entrou pelo toiro e cravou de alto a baixo e ao estribo.
Marcelo Mendes teve uma primeira actuação desastrada. Conduzindo sempre (e sempre é mesmo sempre) a montada com as duas mãos nas rédeas, sofreu toques a mais e os ferros resultaram sempre à garupa. Mesmo debaixo de alguns assobios, atreveu-se, no final, a pedir mais um ferro… O segundo toiro que lhe tocou em sorte (ou azar…) não lhe deu grandes opções de lide. Apesar disso, deixou alguns ferros a sesgo de boa execução, numa actuação de grande valor e entrega.
Quanto às pegas, começou o grupo de Montemor por intermédio de António Vacas de Carvalho, que citou e reuniu bem, aguentou fortes derrotes, mas o grupo demorou um pouco e quando quis fechar a pega o forcado da cara já estava de fora, tendo sido recomposto pelas ajudas (convém referir que, noutras ocasiões esta pega teria sido dada como consumada…). Na segunda tentativa fez de novo tudo bem, o grupo ajudou com coesão e consumou uma boa e rija pega. Tiago Telles de Carvalho foi à cara do terceiro da noite. À primeira tentativa não recebeu bem e não se fechou. Consumou ao segundo intento, à córnea e bem ajudado pelo grupo. Para a quinta pega da noite saiu Francisco Borges, que citou bem o toiro que saiu com pata, reuniu muito bem e com impacto, aguentou fortes derrotes sozinho na cara do toiro e foram necessárias (?) duas ajudas extras (até quando?) para que esta grande pega fosse consumada. Mereceu o prémio para a melhor pega (leia-se a realizada pelo melhor forcado da cara).
Pelos de Vila Franca iniciou a noite o forcado Rui Godinho que executou uma pega sem que o toiro impusesse grandes dificuldades e com o grupo a ajudar bem. Rui Graça foi para a cara do quarto toiro da noite e, na primeira tentativa, esteve mal a receber e não se conseguiu fechar. À segunda, com o toiro a ensarilhar, não reuniu da melhor forma, mas conseguiu fechar-se e a pega foi consumada nas tábuas onde embateu depois de ter passado pelas ajudas. Ricardo Patusco foi “buscar” o toiro a tábuas, reuniu superiormente e consumou uma muito boa e rija pega, com o grupo a mostrar coesão nas ajudas.
Por: Catarina Afonso
As Voltas à Arena
Sempre ouvi dizer que uma das características essenciais num toureiro (leia-se cavaleiro, matador, forcado…) é a humildade. Sem esta virtude nenhum triunfo faz sentido e só a humildade faz um grande toureiro …
A volta à arena no final de uma lide ou de uma pega deve ser um prémio para o que foi realizado pelo cavaleiro/matador/forcado e não um ritual que faz parte de todas as corridas de toiros. Ou seja: a volta à arena deve ser merecida e não obrigatória. Sobre isto já muito se escreveu, mas não há maneira de as coisas mudarem…
Vem isto a propósito do que ontem vi em Vila Franca, uma praça das mais importantes do país e, por isso, classificada como de 1ª categoria. Uma lide e duas pegas pouco ou nada conseguidas e lá saem todos para a volta à arena…que desfaçatez! Como pode educar-se o público que acode às praças se os cavaleiros/matadores/forcados/empresários, etc. não se preocupam em fazê-lo?
Sempre defendi e defendo que os grandes responsáveis pelo grau de cultura taurina dos espectadores que temos nas nossas praças são os intervenientes diretos nas corridas. São eles os mais aptos a avaliar o trabalho que desenvolvem e a saber quando devem ou não sair para a volta. Claro que é sempre melhor dar a volta e ter a presenciar um público pouco aficionado, que bate palmas por tudo e por nada e que, por isso, não complica a vida dos toureiros. Talvez por isso não haja interesse da sua parte em participar na “educação taurina” do público…
Mesmo quando há insistência do público em que se saia para a volta à arena, deve transmitir-se a esse mesmo público que, não estando bem, não se deve sair (e não sair é não sair mesmo…). Da próxima vez (ou das próximas vezes se não for entendido à primeira) o público será, com certeza, menos insistente quando os cavaleiros e/ou forcados estejam menos bem…
Escrevi aqui há um tempo atrás que admirei o gesto de um empresário que, através do sistema de som instalado numa desmontável, solicitou ao público que fizesse silêncio no decorrer das pegas, explicando porquê. Este pedido foi feito aquando da realização da primeira pega e o silêncio manteve-se nas restantes.
Pois bem, se os cavaleiros e forcados saem para a volta à arena de cada vez que toureiam (mal ou bem) vamos continuar a ter o mesmo público (com tendência a piorar) a bater palmas por tudo e por nada e a ver corridas de toiros que muitas vezes nos fazem lembrar espetáculos de circo.
Por: Catarina Afonso
A Humildade faz toda a diferença…
A minha paixão (desmedida) pelos toiros levou-me a percorrer mais quase 600 km para assistir a uma corrida de toiros. Desta vez foi em Vila Franca de Xira, por ocasião das Festas do Colete Encarnado, onde todos os anos marco presença. O cartel era para mim atrativo, sendo que o que mais ansiava era ver o comportamento dos toiros da ganadaria de Oliveira Irmãos. E, diga-se, não me dececionaram. Gostei sobretudo dos que foram destinados ao toureio a pé, ambos aplaudidos pelo público aquando da recolha aos curros. Os destinados ao toureio a cavalo revelaram algumas dificuldades, próprias dos toiros desta ganadaria, sendo que os segundo e quinto da ordem revelaram mansidão. Os restantes deixaram-se lidar, sendo que era necessário sabê-los tourear.
António Telles teve uma primeira lide algo irregular, mas com momentos altos. Começou com um comprido traseiro, mas corrigiu e os dois seguintes, à tira, foram de boa nota. Nos curtos destaque para o 4º ferro, colocado em reunião mais cingida. No segundo do seu lote, sobretudo nos curtos, com o Rondeño, vimos, uma vez mais, uma lição de toreria. Excelente na brega, na escolha dos terrenos e no contornar as dificuldades impostas pelo toiro (que eram muitas…). O quinto e último ferros curtos foram de levantar as bancadas, tanto na reunião, como na colocação e, a preparação foi sublime. No final o público obrigou-o a duas voltas à arena. (Sempre ouvi dizer que vale mais pouco e bom do que muito e ruim…)
João Telles não teve sorte no lote que lhe tocou, mas também nada fez para alterar essa situação. Ou seja: na minha humilde opinião, mesmo com os toiros que lhe tocaram poderia ter estado bem melhor. No primeiro do lote apenas à terceira conseguiu deixar o primeiro ferro comprido no toiro. Nos curtos, o terceiro foi o único ferro que foi colocado sem sofrer qualquer toque na montada. No final, sem que o público se manifestasse, saiu voluntariamente para a volta, numa demonstração de falta de humildade e reconhecimento do que havia feito. A segunda lide resultou correta, embora com ferros aliviados (1º) e colocados à garupa (2º e 3º).
Para os forcados de Vila Franca a tarde também não foi nada fácil. Iniciou o cabo Ricardo Castelo com uma muito boa pega, em que marcou bem todos os tempos e onde o grupo mostrou grande coesão nas ajudas. Diogo Pereira saltou para pegar o segundo da tarde. O toiro sai com prontidão, o forcado reúne, mas sai ao chegar ao grupo, com o astado a tirar a cara. Na segunda entrada ao toiro recua deficientemente e não consegue reunir. Pegou à terceira com ajudas carregadas e sem brilho. No final saiu também para a volta que não justificou, muito menos por estar perante o “seu” público. Para a pega ao quarto da tarde foi escolhido Márcio Francisco, que efetuou a pega da tarde. Bem a receber, a aguentar fortes derrotes, com o toiro a desviar a trajetória e o grupo a fechar com grande coesão. A encerrar a tarde de pegas esteve Ricardo Patusco., que na primeira tentativa não consegue reunir por não recuar da melhor forma. Ao segundo intento consegue reunir, o toiro viaja com a cara em baixo e o forcado da cara sai. Consegue consumar a pega à terceira tentativa, com as ajudas em cima e sem qualquer brilho. No final deu volta, mesmo sabendo que a não merecia, pois que inicialmente se recusou a sair.
David Mora veio uma vez mais a Vila Franca, mostrar as suas boas maneiras. É verdade que teve pela frente dois bons toiros, mas também é verdade que porfiou bastante e mostrou porque é figura. Ao primeiro recebeu-o de capote por verónicas de boa execução, rematadas com uma meia verónica. Depois de um tércio de bandarilhas desastrado por parte da sua quadrilha, mostrou bom ofício com a muleta, que perdeu por duas vezes durante a faena. Mesmo assim, vimos uma boa série de passes pela direita e mais duas excelentes séries desenhadas com a mão esquerda. Ao último da tarde lanceou-o por verónicas a pés juntos, prosseguindo com lances por chicuelinas, rematados com meias verónicas. Na muleta vimos boas séries, tanto pela direita como pela esquerda, rematadas sempre com passes de peito de elevado nível. Já com o toiro fechado em tábuas, forçou alguns passes sem significado. Tardou, quanto a nós, em escutar música.
E foi assim, que uma vez mais saciei a minha sede de toiros… Boa corrida, com António Telles ao seu nível (de maestro) e com João Telles a não conseguir romper. Lamentamos a falta de humildade e a falta de reconhecimento do labor desenvolvido por parte de João Telles e também dos forcados de Vila Franca, que não mereciam as voltas à arena em duas ocasiões. E, para mim, em qualquer toureiro a humildade faz toda a diferença…
Por: Catarina Afonso
Setúbal - Pequenos Detalhes
Na passada sexta-feira tinha planeado estar presente na corrida do S. Pedro em Évora. Não tendo sido possível decidi, então, assistir à corrida pela TV. Se tivesse estado presente, como era meu desejo, teria narrado (“cronicamente”) os incidentes da dita, acompanhando com algumas fotos que iria tirar. Assim, pela televisão, achei que era melhor não escrever sobre a corrida, pois que são muitos os momentos que se perdem e corre-se o risco de falharem pormenores importantes.
Mas, depois de ver a corrida, pensei que, via televisão, também se pode escrever sobre outros momentos que não aqueles que descrevem lides, ferros ou pegas. Foi por isso que decidi escrever sobre alguns momentos dignos de destaque e de reflexão sobre a corrida de Setúbal a que ontem assisti via TV.
Em primeiro lugar, quero que fique claro que sou uma defensora acérrima das corridas de toiros e que a minha paixão pela Festa Brava é desmedida. Depois, quero referir que nada tenho contra a RTP e que esta estação televisiva está de parabéns pelo serviço público que presta através da transmissão de corridas de toiros.
Passo então às ideias que me vieram enquanto assistia à transmissão da corrida de toiros de Setúbal, através da RTP…
O primeiro momento de relevo vai para o curro de toiros que esteve em praça. Toiros sérios, que transmitiam e que pediam toureiros à altura, o que não houve. Um grande OLÉ!!!!, pois, para a ganadaria de António Silva…
Isto mesmo ficou patente na apreciação de José Cáceres aquando da lide de Luís Rouxinol ao segundo da noite: “ Um toiro imponente e com uma cara destas pode ser até perigoso…”
Num segundo momento, e logo após ver a primeira pega, deixo no ar uma pergunta: porquê estes grupos de forcados para pegar um curro de toiros deste calibre? Será propositado, será por obrigação ou será por pura opção?
Já lá dizia o José Cáceres: “Não é fácil rabejar um toiro com este poder…” E digo eu: e pegar? Só com 9 ou 10 elementos. Ou então: “Lá atrás é preciso mais coesão que este toiro não é para brincadeiras…” E eu acrescento: nem para estes forcados…
E já agora deixo no ar outra pergunta, esta para, talvez (ou talvez não), reflexão de quem comanda os destinos da Festa em Portugal: o que acontece, ou melhor, o que deverá acontecer a um grupo que utiliza mais do que o número de forcados que estão previstos no Regulamento para executar uma pega? E, pior ainda, o que acontece quando há reincidência?
Bem, a resposta, ontem foi simples: dá-se prémio… Sim, em vez de sancionar este tipo de atitudes, premeiam-se…
Se calhar é melhor alterar o Regulamento e nele prever um número de forcados superior ao que neste momento está previsto para execução da pega. Ou então, prever no novo Regulamento uma sanção para quem viole essa norma…
E que dizer da realização da corrida? Quanto a mim, muito má… Para o realizador é mais importante transmitir aos telespectadores o que se passa nas bancadas do que mostrar a execução completa de uma pega ou a colocação dos ferros numa lide a cavalo. A transmissão de uma corrida de toiros é, como disse, um serviço público, mas deve ser transmitida a corrida e não mostrar quem está nas bancadas, ou as botas do cavaleiro e as meias dos forcados… Penso ser este um aspecto muito importante que a RTP deve rever.
Outro dos momentos importantes da transmissão televisiva foi o relógio que apareceu no canto inferior do ecrã. Dizia o José Cáceres que era para se verificar se o director de corrida cumpria o que está estipulado no Regulamento sobre os tempos das lides. Pois bem…tão depressa apareceu como despareceu. E alguém viu se foram cumpridos ou não os tempos das lides? E porquê? Será que alguém interferiu quando soube desta invenção?
E por falar em relógio, um último momento digno de nota foi o comentário do Dr. Vasco Lucas: “o director de corrida esteve muito bem como aficionado, não tinha nada que dar aviso…” Mas então em que ficamos: o Regulamento é para ser cumprido ou não? Um director de corrida pode “dar aviso” nuns casos e noutros não? E será que um director de corrida que cumpre e faz cumprir o Regulamento não é aficionado? Ou será o contrário?
Vai mal o mundo da Festa com momentos como estes…
Por: Catarina Afonso
Amor com amor se paga…
No passado dia 25 de Junho, à semelhança de muitos outros anos nesta altura, rumei até Badajoz para assistir a uma corrida de toiros integrada na Feria de S. Juan. Cerca de 300 Km de distância separam esta cidade espanhola da cidade onde habitualmente vivo, realizados sob um calor abrasador que só uma enorme paixão pelos toiros consegue suportar. Mas a expectativa era grande e a certeza de que todos os intervenientes daquela tarde colocariam em praça toda a sua toreria e se entregariam também com toda a paixão no exercício da mais bela profissão do mundo, justificaram esta minha opção. E nem as minhas as expectativas, nem as minhas certezas saíram defraudadas.
A praça estava esgotada (com muitos portugueses) e o ambiente era enorme...Sobretudo para ver duas reaparições: a de José Tomás que não toureava em público desde o passado ano (sendo que na presente temporada apenas se anuncia em três ocasiões) e a de El Juli, depois da lesão no ombro, em consequência de colhida sofrida há umas semanas atrás. Depois havia também Padilla que eu vira já na sua emocionante reaparição em Olivenza e que é um dos símbolos da concretização desta paixão que é o toureio.
Os toiros, esses pertenciam à Ganadaria de Garcigrande que pasta nos campos de Salamanca, que percorreram mais ou menos a mesma distância que eu e, também eles, seguramente, em nome da paixão pelo toureio.
Abriu praça, por ser o mais antigo do cartel dessa tarde, esse toureiro enorme de nome Juan Jose Padilla, que, essencialmente, baseou as suas faenas na raça e no querer que o caracterizam.(Convém aqui e agora referir o que tem sido muito falado desde a sua reaparição: este toureiro não foi talhado para este tipo de toureio, ou melhor, para o tipo de toureio exigido por estes toiros. Apenas devido ao grande infortúnio que lhe bateu à porta no findar da passada temporada e também ao querer e enorme força de vontade demonstradas na sua recuperação, foi chamado a estes cartéis… Mas voltemos à corrida. Padilla recebeu o seu primeiro por verónicas bem templadas e, em seguida escutou assobios pela sua decisão de não bandarilhar. Na muleta o toiro apagou-se muito cedo e não permitiu qualquer tipo de luzimento por parte do matador. Matou de meia estocada e decabello e escutou silêncio no final. Para o segundo do seu lote veio com todas as ganas de triunfo, depois de ver os seus alternantes triunfar no primeiro que lhes havia tocado em sorte. Recebeu com uma afarolada de joelhos em terra e continuou por verónicas que terminou com uma revolera. Desta vez bandarilhou, no que escutou sentidos aplausos por parte do público. No último tércio iniciou de joelhos em terra privilegiando mais o toureio acessório do que verdadeiramente o essencial. Mas também é verdade que a falta de casta do toiro em nada ajudou. Matou de uma boa estocada à segunda entrada e cortou uma orelha.
A José Tomás tocou o pior lote… O seu primeiro não tinha fijeza e teve que porfiar muito para levar por diante o eu toureio puro e de verdade. Inicia com uma série de chicuelinas de um temple extraordinário, sendo que logo aí se viu que o toiro não transmitia nem um bocadinho. Na faena de muleta começa com estatuários e, na falta de toiro, construiu o seu toureio à base de muita quietude, valor e estoicismo, quase sempre com o toiro a tocar na taleguilla com os pitons. Terminou com uma série de manoletinas que, mais uma vez, pecaram por falta de transmissão do toiro. Matou de estocada inteira, mas algo traseira e caída e cortou uma orelha. Ao seu segundo recebeu-o com suaves lances de capote a pés juntos, para, depois do tercio de varas, executar uma boa serie por gaoneras. Na muleta, uma vez mais perante um toiro sem classe, teve uma faena que foi de menos a mais, ou, melhor a muito mais… Iniciou com alguns passes menos conseguidos, arriscou a colhida, cresceu e pôs todos de pé, rendidos ao seu toureio. Matou de estocada inteira e cortou duas orelhas.
El Juli foi, sem dúvidas o melhor da tarde, levando a melhor sobre José Tomás (e que bonito é ver rivalidades destas em praça!...). Ao primeiro do seu lote recebeu com verónicas de bela execução, rematadas com uma media de fazer levantar a praça. Na muleta baseou a sua faena na mão direita, já que pelo outro lado o toiro apresentava algumas dificuldades. E foi aí que vimos grandes séries de derechazos, sempre de mão baixa e rematados com soberbos passes de peito. Prosseguiu com uma enorme variedade de passes que puseram o público todo de pé. Matou de estocada inteira e cortou duas merecidas orelhas. A encerrar praça, mais uma grande faena de El Juli… Perante o toiro mais sério da corrida, não pôde luzir-se com o capote. Com a muleta iniciou como que dizendo ao toiro que quem manda é o toureiro e, submetendo-o completamente, consegue sacar passes de grande valor e técnica. Termina metido entre os pitons e com o público completamente rendido ao seu toureio, mostrando que, também ele, toureia com valor e arte. Mata de estocada inteira, en todo lo alto, rodando o toiro sin puntilla.
E foi assim, que, com toureio caro e grande a minha paixão foi recompensada pela paixão dos toureiros em praça. Foi mesmo caso para dizer que amor com amor se paga…
Por: Catarina Afonso
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