A Humildade faz toda a diferença…
A minha paixão (desmedida) pelos toiros levou-me a percorrer mais quase 600 km para assistir a uma corrida de toiros. Desta vez foi em Vila Franca de Xira, por ocasião das Festas do Colete Encarnado, onde todos os anos marco presença. O cartel era para mim atrativo, sendo que o que mais ansiava era ver o comportamento dos toiros da ganadaria de Oliveira Irmãos. E, diga-se, não me dececionaram. Gostei sobretudo dos que foram destinados ao toureio a pé, ambos aplaudidos pelo público aquando da recolha aos curros. Os destinados ao toureio a cavalo revelaram algumas dificuldades, próprias dos toiros desta ganadaria, sendo que os segundo e quinto da ordem revelaram mansidão. Os restantes deixaram-se lidar, sendo que era necessário sabê-los tourear.
António Telles teve uma primeira lide algo irregular, mas com momentos altos. Começou com um comprido traseiro, mas corrigiu e os dois seguintes, à tira, foram de boa nota. Nos curtos destaque para o 4º ferro, colocado em reunião mais cingida. No segundo do seu lote, sobretudo nos curtos, com o Rondeño, vimos, uma vez mais, uma lição de toreria. Excelente na brega, na escolha dos terrenos e no contornar as dificuldades impostas pelo toiro (que eram muitas…). O quinto e último ferros curtos foram de levantar as bancadas, tanto na reunião, como na colocação e, a preparação foi sublime. No final o público obrigou-o a duas voltas à arena. (Sempre ouvi dizer que vale mais pouco e bom do que muito e ruim…)
João Telles não teve sorte no lote que lhe tocou, mas também nada fez para alterar essa situação. Ou seja: na minha humilde opinião, mesmo com os toiros que lhe tocaram poderia ter estado bem melhor. No primeiro do lote apenas à terceira conseguiu deixar o primeiro ferro comprido no toiro. Nos curtos, o terceiro foi o único ferro que foi colocado sem sofrer qualquer toque na montada. No final, sem que o público se manifestasse, saiu voluntariamente para a volta, numa demonstração de falta de humildade e reconhecimento do que havia feito. A segunda lide resultou correta, embora com ferros aliviados (1º) e colocados à garupa (2º e 3º).
Para os forcados de Vila Franca a tarde também não foi nada fácil. Iniciou o cabo Ricardo Castelo com uma muito boa pega, em que marcou bem todos os tempos e onde o grupo mostrou grande coesão nas ajudas. Diogo Pereira saltou para pegar o segundo da tarde. O toiro sai com prontidão, o forcado reúne, mas sai ao chegar ao grupo, com o astado a tirar a cara. Na segunda entrada ao toiro recua deficientemente e não consegue reunir. Pegou à terceira com ajudas carregadas e sem brilho. No final saiu também para a volta que não justificou, muito menos por estar perante o “seu” público. Para a pega ao quarto da tarde foi escolhido Márcio Francisco, que efetuou a pega da tarde. Bem a receber, a aguentar fortes derrotes, com o toiro a desviar a trajetória e o grupo a fechar com grande coesão. A encerrar a tarde de pegas esteve Ricardo Patusco., que na primeira tentativa não consegue reunir por não recuar da melhor forma. Ao segundo intento consegue reunir, o toiro viaja com a cara em baixo e o forcado da cara sai. Consegue consumar a pega à terceira tentativa, com as ajudas em cima e sem qualquer brilho. No final deu volta, mesmo sabendo que a não merecia, pois que inicialmente se recusou a sair.
David Mora veio uma vez mais a Vila Franca, mostrar as suas boas maneiras. É verdade que teve pela frente dois bons toiros, mas também é verdade que porfiou bastante e mostrou porque é figura. Ao primeiro recebeu-o de capote por verónicas de boa execução, rematadas com uma meia verónica. Depois de um tércio de bandarilhas desastrado por parte da sua quadrilha, mostrou bom ofício com a muleta, que perdeu por duas vezes durante a faena. Mesmo assim, vimos uma boa série de passes pela direita e mais duas excelentes séries desenhadas com a mão esquerda. Ao último da tarde lanceou-o por verónicas a pés juntos, prosseguindo com lances por chicuelinas, rematados com meias verónicas. Na muleta vimos boas séries, tanto pela direita como pela esquerda, rematadas sempre com passes de peito de elevado nível. Já com o toiro fechado em tábuas, forçou alguns passes sem significado. Tardou, quanto a nós, em escutar música.
E foi assim, que uma vez mais saciei a minha sede de toiros… Boa corrida, com António Telles ao seu nível (de maestro) e com João Telles a não conseguir romper. Lamentamos a falta de humildade e a falta de reconhecimento do labor desenvolvido por parte de João Telles e também dos forcados de Vila Franca, que não mereciam as voltas à arena em duas ocasiões. E, para mim, em qualquer toureiro a humildade faz toda a diferença…
Por: Catarina Afonso
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário