Amor com amor se paga…


No passado dia 25 de Junho, à semelhança de muitos outros anos nesta altura, rumei até Badajoz para assistir a uma corrida de toiros integrada na Feria de S. Juan. Cerca de 300 Km de distância separam esta cidade espanhola da cidade onde habitualmente vivo, realizados sob um calor abrasador que só uma enorme paixão pelos toiros consegue suportar. Mas a expectativa era grande e a certeza de que todos os intervenientes daquela tarde colocariam em praça toda a sua toreria e se entregariam também com toda a paixão no exercício da mais bela profissão do mundo, justificaram esta minha opção. E nem as minhas as expectativas, nem as minhas certezas saíram defraudadas.
A praça estava esgotada (com muitos portugueses) e o ambiente era enorme...Sobretudo para ver duas reaparições: a de José Tomás que não toureava em público desde o passado ano (sendo que na presente temporada apenas se anuncia em três ocasiões) e a de El Juli, depois da lesão no ombro, em consequência de colhida sofrida há umas semanas atrás. Depois havia também Padilla que eu vira já na sua emocionante reaparição em Olivenza e que é um dos símbolos da concretização desta paixão que é o toureio.
Os toiros, esses pertenciam à Ganadaria de Garcigrande que pasta nos campos de Salamanca, que percorreram mais ou menos a mesma distância que eu e, também eles, seguramente, em nome da paixão pelo toureio.
Abriu praça, por ser o mais antigo do cartel dessa tarde, esse toureiro enorme de nome Juan Jose Padilla, que, essencialmente, baseou as suas faenas na raça e no querer que o caracterizam.(Convém aqui e agora referir o que tem sido muito falado desde a sua reaparição: este toureiro não foi talhado para este tipo de toureio, ou melhor, para o tipo de toureio exigido por estes toiros. Apenas devido ao grande infortúnio que lhe bateu à porta no findar da passada temporada e também ao querer e enorme força de vontade demonstradas na sua recuperação, foi chamado a estes cartéis… Mas voltemos à corrida. Padilla recebeu o seu primeiro por verónicas bem templadas e, em seguida escutou assobios pela sua decisão de não bandarilhar. Na muleta o toiro apagou-se muito cedo e não permitiu qualquer tipo de luzimento por parte do matador. Matou de meia estocada e decabello e escutou silêncio no final. Para o segundo do seu lote veio com todas as ganas de triunfo, depois de ver os seus alternantes triunfar no primeiro que lhes havia tocado em sorte. Recebeu com uma afarolada de joelhos em terra e continuou por verónicas que terminou com uma revolera. Desta vez bandarilhou, no que escutou sentidos aplausos por parte do público. No último tércio iniciou de joelhos em terra privilegiando mais o toureio acessório do que verdadeiramente o essencial. Mas também é verdade que a falta de casta do toiro em nada ajudou. Matou de uma boa estocada à segunda entrada e cortou uma orelha.
A José Tomás tocou o pior lote… O seu primeiro não tinha fijeza e teve que porfiar muito para levar por diante o eu toureio puro e de verdade. Inicia com uma série de chicuelinas de um temple extraordinário, sendo que logo aí se viu que o toiro não transmitia nem um bocadinho. Na faena de muleta começa com estatuários e, na falta de toiro, construiu o seu toureio à base de muita quietude, valor e estoicismo, quase sempre com o toiro a tocar na taleguilla com os pitons. Terminou com uma série de manoletinas que, mais uma vez, pecaram por falta de transmissão do toiro. Matou de estocada inteira, mas algo traseira e caída e cortou uma orelha. Ao seu segundo recebeu-o com suaves lances de capote a pés juntos, para, depois do tercio de varas, executar uma boa serie por gaoneras. Na muleta, uma vez mais perante um toiro sem classe, teve uma faena que foi de menos a mais, ou, melhor a muito mais… Iniciou com alguns passes menos conseguidos, arriscou a colhida, cresceu e pôs todos de pé, rendidos ao seu toureio. Matou de estocada inteira e cortou duas orelhas.
El Juli foi, sem dúvidas o melhor da tarde, levando a melhor sobre José Tomás (e que bonito é ver rivalidades destas em praça!...). Ao primeiro do seu lote recebeu com verónicas de bela execução, rematadas com uma media de fazer levantar a praça. Na muleta baseou a sua faena na mão direita, já que pelo outro lado o toiro apresentava algumas dificuldades. E foi aí que vimos grandes séries de derechazos, sempre de mão baixa e rematados com soberbos passes de peito. Prosseguiu com uma enorme variedade de passes que puseram o público todo de pé. Matou de estocada inteira e cortou duas merecidas orelhas. A encerrar praça, mais uma grande faena de El Juli… Perante o toiro mais sério da corrida, não pôde luzir-se com o capote. Com a muleta iniciou como que dizendo ao toiro que quem manda é o toureiro e, submetendo-o completamente, consegue sacar passes de grande valor e técnica. Termina metido entre os pitons e com o público completamente rendido ao seu toureio, mostrando que, também ele, toureia com valor e arte. Mata de estocada inteira, en todo lo alto, rodando o toiro sin puntilla.

E foi assim, que, com toureio caro e grande a minha paixão foi recompensada pela paixão dos toureiros em praça. Foi mesmo caso para dizer que amor com amor se paga…


Por: Catarina Afonso

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