As Voltas à Arena


Sempre ouvi dizer que uma das características essenciais num toureiro (leia-se cavaleiro, matador, forcado…) é a humildade. Sem esta virtude nenhum triunfo faz sentido e só a humildade faz um grande toureiro …
A volta à arena no final de uma lide ou de uma pega deve ser um prémio para o que foi realizado pelo cavaleiro/matador/forcado e não um ritual que faz parte de todas as corridas de toiros. Ou seja: a volta à arena deve ser merecida e não obrigatória. Sobre isto já muito se escreveu, mas não há maneira de as coisas mudarem…
Vem isto a propósito do que ontem vi em Vila Franca, uma praça das mais importantes do país e, por isso, classificada como de 1ª categoria. Uma lide e duas pegas pouco ou nada conseguidas e lá saem todos para a volta à arena…que desfaçatez! Como pode educar-se o público que acode às praças se os cavaleiros/matadores/forcados/empresários, etc. não se preocupam em fazê-lo?
Sempre defendi e defendo que os grandes responsáveis pelo grau de cultura taurina dos espectadores que temos nas nossas praças são os intervenientes diretos nas corridas. São eles os mais aptos a avaliar o trabalho que desenvolvem e a saber quando devem ou não sair para a volta. Claro que é sempre melhor dar a volta e ter a presenciar um público pouco aficionado, que bate palmas por tudo e por nada e que, por isso, não complica a vida dos toureiros. Talvez por isso não haja interesse da sua parte em participar na “educação taurina” do público…
Mesmo quando há insistência do público em que se saia para a volta à arena, deve transmitir-se a esse mesmo público que, não estando bem, não se deve sair (e não sair é não sair mesmo…). Da próxima vez (ou das próximas vezes se não for entendido à primeira) o público será, com certeza, menos insistente quando os cavaleiros e/ou forcados estejam menos bem…
Escrevi aqui há um tempo atrás que admirei o gesto de um empresário que, através do sistema de som instalado numa desmontável, solicitou ao público que fizesse silêncio no decorrer das pegas, explicando porquê. Este pedido foi feito aquando da realização da primeira pega e o silêncio manteve-se nas restantes.
Pois bem, se os cavaleiros e forcados saem para a volta à arena de cada vez que toureiam (mal ou bem) vamos continuar a ter o mesmo público (com tendência a piorar) a bater palmas por tudo e por nada e a ver corridas de toiros que muitas vezes nos fazem lembrar espetáculos de circo.

Por: Catarina Afonso

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