De regresso às minhas lides…e às pegas, claro…
Decidi há muito que esta corrida em Almeirim seria uma das que não me poderia “fugir”. E foi já a salvo de formalismos e cuidados sobre o que escrevo que me fiz ao caminho. Várias eram as razões que motivavam esta minha decisão: o confronto entre duas dinastias de toureiros, daqueles que ainda preservam a essência do toureio a cavalo (de verdade e com verdade) foi o primeiro motivo. Depois, seria a última vez em que iria assistir a uma corrida em que o grupo de forcados de Montemor iria ser comandado (formalmente) por José Maria Cortes.
Confesso que é para mim difícil estar a escrever sobre mais esta minha “aventura” taurina numa altura em que esse grande forcado está a ser homenageado e a passar o testemunho ao novo cabo do grupo.
Por isso mesmo vou começar por dizer que, nesta noite, o Zé Maria comandou o seu grupo de forma exemplar, tendo os elementos escolhidos para irem à cara dos toiros pegado à primeira tentativa e com boas pegas, numa actuação (mais uma) memorável deste grupo de forcados. E também quero dizer que, desde que o Zé Maria passou a comandar o grupo lá do alto, que tenho assistido a grandes actuações e grandes pegas…
Tenho que confessar também que o elemento que nesta noite me fazia recear pelo insucesso da corrida era o toiro. Os toiros da ganadaria de José Lupi não são dos meus preferidos, se bem que também não os tenho visto muito. Mas, desta vez, surpreenderam-me pela positiva. Sem serem bravos, longe disso, deixaram-se lidar e até “empurraram”, pelo menos por detrás do cavalo. Mostraram-se reservados, uns mais do que outros, e o que saiu em quarto lugar foi um manso que desde cedo se refugiou em tábuas e não mais de lá saiu. Não eram pesados em demasia (entre os 505 e os 540 kg) e estavam bem apresentados, com o senão da cara do terceiro da ordem.
Das lides a cavalo não vou comentar muito. E por uma simples razão: o toureio a que assisti foi do bom, daquele caro, que merece bem o valor que se paga por uma entrada/bilhete.
A lide a duo de António Telles e do seu sobrinho João foi soberba. Entendimento perfeito, cooperação e ferros de alto gabarito foram a tónica de uma lide que vai, por certo, ficar na história das lides a duo. Deu gosto ver… Olé!
A lide a duo da dinastia Salgueiro foi de menos a mais, acabando em muito bom plano, com dois pares de ferros, cravados no ressalto um do outro e após uma preparação primorosa. Também gostei de ver…
As lides a solo, todas elas tiveram momentos muito bons. João Salgueiro optou por citar de largo e ir de encontro ao toiro e, nos terrenos deste, deixar bons ferros de alto a baixo e ao estribo, como o segundo curto, para mim o que mais se destacou, numa boa lide.
João Salgueiro da Costa alterna momentos soberbos com outros menos bons. No dia em que conseguir corrigir teremos, por certo, um grande toureiro. Dentro do melhor (1º, 2º e 5º ferros curtos e 2º comprido) e do pior (1º ferro comprido e 4º curto, em que falhou descaradamente o toiro), assisti a um grande ferro, o terceiro curto.
António Telles teve pela frente um manso ao qual deu a lide correspondente, mostrando, como em muitas outras ocasiões que os mansos também têm a sua lide e demonstrando como se faz… Depois de cravar três compridos no espaço de uma moeda, viu-se obrigado a cravar a ferragem curta em sortes sesgadas, tendo eu retido o grande terceiro ferro curto, com o manso a apertar mais na reunião.
João Telles teve, quanto a mim, a melhor lide da noite. Sempre muito correcto na brega e deixando ferros sempre em sortes frontais, precedidas de ligeira batida ao pitón contrário, terminou com um grande ferro, indo de encontro ao toiro, provocando-lhe a investida, entrando-lhe nos terrenos e cravando de alto a baixo em reunião cingida.
Pelos forcados amadores de Santarém começou António Grave de Jesus, que entrou nos terrenos do toiro, sacou-se e reuniu bem, mas faltou uma primeira ajuda com maior determinação e acabou por sair. Na segunda entrada não recuou e, nos terrenos do toiro, não conseguiu reunir. Consumou á terceira tentativa, numa reunião defeituosa e com ajudas carregadas. Lopo de Carvalho e Ricardo Tavares saltaram para a cernelha ao terceiro da noite e, à primeira entrada, consumaram uma muito boa pega, mostrando o que não é hoje muito habitual ver nas nossas praças. João Torres foi à cara do quinto da ordem e na primeira tentativa não recebeu bem um toiro que saiu de pronto e não conseguiu reunir. Consumou à segunda com o toiro a seguir pelo seu caminho e a não dificultar a chegada do grupo.
Montemor teve uma noite perfeita… João Pedro Tavares foi o escolhido para pegar o segundo da noite. Marcou perfeitamente todos os tempos e consumou uma boa pega, das chamadas tecnicamente perfeitas. Manuel Dentinho pegou o quarto da corrida, depois e um bom cite, a dar vantagens, entrou nos terrenos do manso e acobardado, recebeu uma boa primeira ajuda e consumou mais uma muito boa pega. A encerrar para os de Montemor esteve João Braga. O toiro saiu de pronto e com pata, o forcado reúne muito bem, aguenta derrotes e viaja até embater com algum impacto nas tábuas onde o grupo fecha com coesão.
E pronto, para o regresso às minhas lides, a coisa esteve muito bem e valeu a pena, muito mesmo…
Por: Catarina Afonso
E pronto, cansei-me!...
Quero informar todos os que seguem
este meu blogue que a partir desta data deixarei de realizar crónicas para o
site toureio.com, com quem vinha colaborando, de forma desinteressada, quase
desde o início da temporada.
Sempre gostei de descrever aquilo
que presencio, ao vivo e no momento, mesmo que saiba que, por vezes posso estar
sujeita a errar. Mas errar é humano e nunca tive problemas em reconhecer e
assumir os meus erros. Geralmente, tudo o que é descrito no momento, com base
no que se presencia e sem repetições corre sempre esse risco.
Nunca estive, não estou, nem nunca
estarei ao serviço de quem quer que seja e, muito menos, alguma vez regateei
junto de quem quer que fosse qualquer contrapartida para dizer aquilo que não
vi ou omitir aquilo que de mau ou menos bom se passou.
Foi com base nestes princípios que
decidi criar este meu espaço, única e simplesmente com o intuito de divulgar as
minhas vivências enquanto aficionada e, mais do que isso, apaixonada pela festa
de toiros. O relato dessas minhas vivências e sobre o que penso sobre este
mundo não têm outra intenção que não seja a de contribuir para a sua melhoria.
Embora reconheça que essa não é uma tarefa fácil.
Não posso aceitar, por isso, que
aquilo que escrevo possa estar sujeito a censura e a recomendações/recados de
quem quer que seja. Quando tão insistentemente fui convidada a escrever para o
toureio.com foi decerto por terem visto o meu trabalho neste blogue e terem
gostado.
Não impus qualquer condição, a não
ser a de que seria publicado aquilo que eu escreveria sobre o que presenciei e
a de que nunca iria deixar este meu espaço, o que foi aceite.
Se não posso dizer que um ferro
foi aliviado ou passado, quando o foi, porque é “pesado” demais, então tenho
que omitir esse facto ou dizer que foi cravado de forma correcta, o que seria
mentir.
Muito menos posso aceitar que uma
crónica minha que pretenderam que eu alterasse e à qual colocaram alguns
entraves na sua publicação, seja um dia depois retirada de “circulação” sem qualquer
explicação.
Eu sei, e com esta experiência
fiquei a saber mais ainda, que nisto dos toiros deve dizer-se sempre o melhor,
deve elogiar-se toda a gente e apregoar triunfos todos os dias…
Desculpem, mas a minha maneira de
estar na vida e, consequentemente, na Festa não é essa e não vejo as coisas
dessa forma.
A minha curta experiência como
colaboradora do toureio.com foi enriquecedora, aprendi algumas coisas que não
sabia, mais más do que boas, mas talvez por isso me servissem para aprender.
Agradeço ao toureio.com ter-me
concedido esta oportunidade, mas vou continuar no meu “mundo”, da forma que
acho que devo ser e estar.
Já agora, podem sempre continuar a
ler as minhas vivências taurinas aqui neste meu modestíssimo espaço.
Por: Catarina Afonso
É por estas e por outras...
A distância a que me encontro de
Lisboa tem encargos financeiros que só consigo suportar por um motivo sério e
muito válido. Claro que este não era o caso e então decidi não ir ao CP, para
presenciar esta corrida organizada pela casa Caetano, desculpem, pela Soc. Campo Pequeno, desta vez com o apoio da RTP. Mas
agora tive a sorte, desculpem o azar, de poder ver a corrida pela televisão e,
por isso, decidi contar a minha vivência enquanto telespectadora, à semelhança
do que acontece quando presencio, ao vivo, uma corrida de toiros, embora de
forma diferente.
De atractivo especial esta corrida
TV nada tinha, pois com os toiros que estavam anunciados nada de bom podia
acontecer. Se isto pensei antes da corrida, mais reforçada ficou esta ideia no
final da mesma… Toiros sem classe, sem trapio, sem raça, enfim, sem
nada…desculpem, tinham peso…
Depois, como se isto não bastasse,
ainda havia comentários e entrevistas, o que, felizmente, nas corridas ao vivo
não tenho que aguentar. E aquela entrevista ao João Ribeiro Telles (pai) no
decorrer da lide de seu filho? Que enorme falta de respeito!!! Foi mau
demais!!! E aqueles inoportunos comentários à sábia opinião de Vasco Pinto,
cabo do grupo de forcados de Alcochete, sobre a actuação do seu grupo? Quando
se deve educar o público no sentido de este exigir o cumprimento das regras e
do toureio de qualidade, vemos isto… Mas, enfim, nada a que não estejamos
habituados e por isso é que a nossa Festa anda como anda…
Eu até reconheço que não é nada
fácil comentar ou narrar em directo o que se vai passando numa corrida de
toiros, mas sinceramente…
Quanto ao toureio propriamente
dito e tendo em conta as limitações decorrentes de estar a ver a corrida pela
TV, agravadas pela má realização, pouco, muito pouco mesmo há a dizer de importante.
Ferros ao estribo? Muito poucos ou quase nenhuns (e nas repetições é que dá bem
para ver…)… Toureio de verdade, com entradas frontais a provocar as investidas
dos mansarrões? Nada…
Ficou-me na retina um bom ferro curto do João
Telles na primeira lide e nada mais de muito relevante. João Moura Caetano não
repetiu os “triunfos” que tem alcançado em todas as praças por onde tem passado
(ou será que triunfou?) e das suas duas lides nada de positivo pude reter. João
Maria Branco, talhado que estava pela empresa organizadora do festejo para
receber o prémio final, mostrou muita exuberância, mas tem ainda muito caminho
para andar e com outro rumo. Aquela saída à Bastinhas no final da sua última
actuação foi do melhor…sim, melhor do que a que faz o cavaleiro de Elvas, pois
neste caso até envolveu um beijo à areia do ruedo da capital…
Os forcados, nuns casos pagaram as
favas de terem pela frente toiros com muita força, que pouco ou nada se moveram
nas lides a cavalo e que eram bruscos na investida e noutros a suavidade e
cobardia dos murubes,
ainda por cima mansos e sem classe. Os de Alcochete não estiveram nos seus
melhores dias e, como bem reconheceu o seu cabo, não andaram bem nas ajudas – principalmente
cá atrás – e algumas das tentativas não deram em pegas (das boas) por falta de
coesão e determinação. Para o grupo do aposento da Moita as coisas correram
muito melhor e consumaram boas pegas, com bastante correcção e técnica e
levaram para casa o prémio em disputa.
Falando em prémios, com toiros
destes não ficou bem atribuir prémios, até porque não houve lides que
merecessem ser premiadas…
E pronto, três longas horas em
frente do televisor a ouvir e a ver uma corrida de toiros sem qualquer
interesse, numa praça que deveria ver corrigida a sua classificação, pois mais
parece uma qualquer praça de segunda no nosso país taurino do que, como a
intitulam, a principal praça nacional…
Por: Catarina Afonso
Ou a nossa festa está num grande momento, ou é obrigatória a entrega dos prémios…
Geralmente todas as corridas de
toiros são anunciadas por ocasião de uma qualquer festividade ou para
comemoração de qualquer acontecimento, sendo que é habitual que tenham lugar,
todos os anos, na mesma altura.
Desta vez, em Alcácer do Sal,
realizou-se uma corrida de toiros sem que houvesse qualquer feira ou festa que
a justificasse, nem que houvesse qualquer efeméride a assinalar. Nem sequer a
data era uma data em que habitualmente, em cada ano, se realizasse. Apesar
disso, a casa esteve composta, sinal de que o cartel e a ideia dos toiros,
cavalos & fados passou bem para o público.
Se a data não era habitual,
habitual se tem tornado a atribuição de prémios: prémio para a melhor lide e
prémio para a melhor pega. E a verdade é que ainda não vi, esta época, qualquer
destes prémios ter ficado por atribuir. E das duas uma: ou a nossa festa está
num grande momento, com cavaleiros e forcados a actuarem ao mais alto nível, ou
então é obrigatória a entrega dos prémios. Se é verdade que todos os dias vemos
anunciados grandes triunfos em todas as corridas, eu, como não acredito nesses
triunfos, fico-me pela segunda hipótese que coloquei, ou seja, já que há prémio
então que seja atribuído. E se assim é e como eu não acredito em triunfos todos
os dias, então que conste, em vez de “prémio para a melhor lide” e “prémio para
a melhor pega”, “prémio para a lide menos má” e “prémio para a pega menos má”.
E assim poderá ser reposta com maior verdade a atribuição de prémios…
Nesta noite foram os toiros que me
levaram a Alcácer e, desta vez, não me desiludiram. Sem serem grandes e
pesados, são verdadeiramente portugueses e, como o algodão, não enganam. Saíram
a pedir contas a cavaleiros e forcados, mostraram a casta de onde procedem e foi
preciso saber tourear para poder com eles. Gostei dos pequenos Vale Sorraia…
Quanto a cavaleiros, venceu o
prémio para a melhor lide o cavaleiro Vítor Ribeiro, pela sua primeira actuação
perante o segundo toiro (quinto da ordem, uma vez que o segundo se lesionou). E
venceu porquê? Porque foi o que esteve menos mal e porque foi o que mais
procurou tourear com verdade, sem a preocupação de tourear o público e com a
séria vontade de tourear o toiro que tinha pela frente e fazer as coisas bem
feitas: ferros colocados ao estribo, de alto a baixo e em reuniões ajustadas, e
procurando sempre os melhores terrenos para cravar, não permitindo demasiadas
intervenções dos seus bandarilheiros. Claro que nem sempre o conseguiu, mas foi
isto que aconteceu na maior parte das vezes e, quanto a mim, foi merecido o
prémio para a lide menos má…
Rui Fernandes, na primeira lide,
esteve bem com o toiro e os seus bandarilheiros também, já que foram demasiadas
as suas intervenções… Na cravagem nem sempre houve justeza nas reuniões e, na
maior parte das vezes, os ferros não foram colocados ao estribo. É verdade que
chegou ao público, mas para isso não é necessário cravar bem e lidar bem,
bastam umas piruetas e umas rosas á volta e o público (grande parte dele)
delira…
Paulo Jorge Santos também ele
conseguiu chegar facilmente ao público (e convenhamos que difícil é não
chegar). Não começou mal, embora privilegiasse os quiebros em desfavor das entradas frontais, mas venceu nele a parte
do tourear o público e então a sua preocupação pelo momento mais importante
esvaiu-se e a sua passagem pela praça que leva o nome do Califa apenas chegou
ao público e nada mais. Dele apenas retive os ferros de palmo à espanhola, os vários toques na montada (um deles com
violência) e os ferros à garupa e em reuniões pouco cingidas…
Quanto a forcados, houve duas
partes distintas: a 1ª parte foi destinada ao grupo de Lisboa e a 2ª aos do
aposento da Moita. Pelos da capital pegaram Eurico Medronheira à 4ª tentativa,
depois de nas três primeiras não ter recebido bem o toiro, Pedro Gil, que
consumou uma boa pega à primeira e Manuel Guerreiro ao terceiro intento, com a
primeira ajuda em cima e sem brilho. Apesar disso, não hesitou em sair para a
volta, ao contrário do seu companheiro de grupo que efectuou a pega ao primeiro
toiro. Deve ser por ser mais velho e sempre ouvi dizer que a velhice é um
posto…
Na segunda parte da corrida
pegaram pelos da Moita José Maria Águas, que reuniu muito bem e consumou uma
boa pega, premiada como a melhor da corrida, José Maria Bettencourt, que com um
bom cite e mandando bem na reunião consumou uma pega sem grandes complicações e
Salvador Pinto Coelho que também esteve bem na frente do toiro, que não
complicou a tarefa do forcado. Todas estas pegas foram realizadas à primeira
tentativa.
E assim foi mais uma corrida,
desta vez para o meu RA, de onde toda a gente saiu satisfeita, com excepção dos
que acharam que o prémio para a lide menos má não foi bem atribuído…
Por: Catarina Afonso
O meu Refúgio!..
Depois de
vários amigos me terem sugerido a alteração do nome deste meu espaço taurino,
alegando – se calhar com bastante pertinência – que existem denominações mais
apelativas para o mundo da Festa, decidi explicar a razão pela qual chamei o
meu blogue de Refúgio do Aficionado e, sobretudo, porque não pretendo alterar
esta designação.
Em primeiro
lugar quero referir que nunca foi minha intenção que este meu espaço fosse um
dos mais visitados, nem, muito menos, entrar em competição de visitas com
outros já existentes…
Em 2005, tinha
eu 15 anos, estava muito afastada geograficamente dos centros da Festa de
Toiros, em Portugal, já que residia e estudava na Guarda, cidade onde
escasseiam os aficionados. Tanto que, ao meu redor, quase ninguém compreendia
esta minha paixão desmedida e achavam até muito estranho este meu gosto.
Foi assim que
decidi criar, em minha casa, um espaço para onde pudesse retirar-me e, em
companhia de meu pai, alimentar, para não deixar morrer, esta minha paixão.
Quando me sentia atacada por ser taurina era para este espaço que eu ia, em vez
de sair à noite, como outros adolescentes, e posso dizer que sentia um orgulho
enorme…
Este espaço
físico foi por mim (e pelo mau pai) pensado ao pormenor, desde um balcão de bar
em forma de burladero, até à cor da camilha da mesa de centro, acabando nas
almofadas colocadas nos cadeirões. Pelas paredes “espalhei” cartéis vários, de
vários tamanhos, de corridas a que ia assistindo (e apenas dessas), capote de
toureio, bandarilhas, freios e esporas, estatuetas de cavalos e toiros, fotos
autografadas de toureiros e forcados e, um dos meus maiores orgulhos, um
dossier com todos os bilhetes de todas as corridas onde estive presente.
Depois foi
fazer a capa para todas as cassetes de vídeo com corridas de toiros gravadas na
TV (em Portugal e Espanha), ver cada uma das cerca de 100 de modo a verificar
os cartéis e embalá-las em caixas adquiridas para o efeito.
E quando ia a
uma corrida que, para mim, era mais marcante. Era ver-me correr à procura do
cartel em formato maior para colocar nas paredes do meu RA, com as cores da
moldura a condizer com as cores do cartaz. Tudo pensado à minha maneira, com
pormenor…
E era assim que,
longe da Festa, me ia sentindo tão próxima e cada vez com maior afición…E era assim que, enquanto muitos
jovens adolescentes da minha idade, saiam para ir a discotecas, bares e fazer
rebeldias de vária ordem, eu me refugiava neste meu espaço para ouvir fado,
flamenco, sevilhanas, ver corridas de toiros e ler livros e revistas de
tauromaquia. De vez em quando tudo isto era acompanhado de alguns petiscos, na
companhia de alguns amigos dos toiros que me visitavam…
É por isso que
eu costumo dizer que tudo o que está naquele meu espaço taurino tem uma
história, até porque, como disse, todos os cartéis emoldurados que vão
preenchendo as paredes foram momentos que eu vivi e que, olhando-os, consigo
recordar.
Fui crescendo,
desloquei a minha residência em tempo de aulas para um local bem no centro da
Festa de Toiros e senti necessidade de ter algo mais que só aquele espaço e foi
então que decidi criar este meu blogue. No primeiro ano da sua existência não
lhe dei a atenção devida, mas neste ano as coisas estão a andar melhor e tenho
colocado aqui quase todas as minhas vivências de aficionada aos toiros,
manifestando a minha opinião, boa ou má, correta ou incorrecta, mas que é a
minha.
Quanto ao
nome, claro que não poderia ser outro que não o do meu espaço (físico) taurino
que criei há já mais de oito anos. Pela história, pelo significado de cada uma
das coisas que dele fazem parte e que eu vivi, não podia deixar de prestar
homenagem ao espaço que durante tantos anos me acolheu e me deu força para
continuar…É o meu cantinho e este blogue vai por ele!! Olé!
Por: Catarina Afonso
A bênção de S. Cristóvão foi para os forcados…
Já aqui referi algumas vezes que, quando criei este espaço, nunca foi
minha intenção fazer crónicas de corridas, nem tenho conhecimentos que me
permitam essa veleidade, embora haja quem pense que sim. A minha única intenção
foi e continua a ser a de exprimir as minhas vivências enquanto aficionada à
Festa dos Toiros. E é isso que, sempre que possível, irei fazer.
Desta vez e sem saber que estavam a ser assinaladas as bodas de prata da
realização de corridas de toiros na castiça localidade alentejana de S.
Cristóvão, decidi comparecer nesta corrida de toiros, tendo como referência
dois aspectos que poderiam ser interessantes de ver.
O primeiro eram os toiros que vinham da ganadaria Palha e o segundo era o
grupo de Montemor que pegava em solitário.
Se no que diz respeito aos toiros (a os quais foram estimados pesos entre
os 450 e os 470 kg), vi o que estava à espera quanto a comportamento
(apresentação já nem por isso…), quanto à prestação do grupo de forcados de
Montemor também vi grandes lições na arte de bem pegar toiros, com as pegas aos
primeiros cinco toiros a serem dignas da história da tauromaquia, pelo bom
conjunto de pegas que constituiram. Já na última, pareceu-me que o jovem
forcado da cara acusou alguma inexperiência, fruto da falta de pegas (podia até
ter sido também da música de baile que o acompanhou na pega…)
Quanto ao resto do cartel, confesso que não ia à espera de nada melhor.
Perante toiros que pediam cavaleiros a sério (e não me venham dizer que os
toiros eram complicados, sem lide possível, etc. etc., porque todos os toiros
têm a sua lide e das melhores que vi esta temporada, senão a melhor, foi a um
manso que nunca saiu de tábuas…), os cavaleiros presentes não conseguiram estar
por cima dos seus oponentes.
Ainda assim, Luís Rouxinol foi o que esteve melhor, fruto da sua
experiência, aliada ao seu bom conceito de toureio. Bem a bregar,
preocupando-se com a colocação do toiro e dando preferência às sortes frontais,
deixou alguns bons ferros, sem, contudo, construir uma lide daquelas de encher
o olho ao aficionado. Três bons ferros curtos no que abriu praça e um bom curto
no segundo do seu lote, complementado com um par de bandarilhas de boa nota,
foi o que retive das suas duas lides.
Ana Batista esteve uns furos abaixo dos astados que teve pela frente.
Perante um primeiro que apertava na reunião, deixou a ferragem quase sempre à
garupa. No seu segundo a ferragem, andou muito à pesca e colocou os ferros de
forma defeituosa, depois de passar em falso demasiadas vezes. Com a conivência
do sr. Diretor, prolongou a lide muito para além dos tempos que o caduco
regulamento prevê (foi quase o dois em um. Ou melhor, duas em uma…). Vá lá que
no final não deu volta, apesar de ter escutado música durante a lide.
Filipe Gonçalves, no terceiro da noite, montou o seu espectáculo, com
ladeares e piruetas na cara do toiro (incluindo o cavalo que bate palminhas),
que muito agradam à maior parte do público das nossas praças, mas de toureio
teve muito pouco: ferros à garupa, foram muitos, fruto das pronunciadas batidas
que o obrigaram a passar em falso e a consentir alguns toques nas montadas. No
que encerrou a noite, as coisas melhoraram e depois do início da lide não ter
sido o melhor, vimos bons ferros curtos, de colocação correta e sem alardes
despropositados.
Mas, como disse, o que mais me ficou na retina (e por certo na de outros
aficionados presentes) foram as pegas. João da Câmara citou muito bem, deu
vantagens, recuou primorosamente na cara do toiro e aguentou todos os derrotes
até o grupo conseguir fechar a rija pega (pena aquelas ajudazitas extra…). João
Braga esteve enorme perante o segundo da noite. Aguentou muito bem os derrotes
duros do toiro, recebeu um boa 1ª ajuda e o grupo fechou com grande coesão uma
muito boa e muito rija pega. Tiago Telles de Carvalho, deu vantagens ao toiro,
recuou bem e, embora não se fechando de pernas, emendou e aguentou até o grupo
consumar a pega. Francisco Barreto efectuou duas boas pegas. Na primeira
tentativa, citou e carregou de largo, teve uma grande reunião, mas saiu já no
meio do grupo que não esteve lesto nas ajudas. Consumou à segunda numa boa pega
à córnea e com uma boa ajuda de Francisco Godinho. Noel Cardoso, citou de forma
correta, mandou vir quando quis e, embora tivesse ficado algo pendurado na
córnea, conseguiu concretizar mais uma boa pega. António Calça e Pina, não
esteve bem a receber e, nas duas primeiras tentativas, não conseguiu reunir.
Consumou à terceira com ajudas carregadas. No final recusou a volta, tendo sido
chamado o grupo à arena, para agradecer os aplausos, numa boa noite de pegas,
decerto muito aplaudidas lá do alto pelo seu cabo José Maria Cortes.
Dirigiu o sr. Agostinho Borges, que foi algo condescendente com a segunda
lide de Ana Batista.
Por: Catarina
Afonso
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