Há muito, muito tempo...


«Ao presente, Manolete é a base de todos os cartazes. Há pouco, em Valência, a praça só se encheu nos dias em que ele toureou.
Todas as feiras de categoria incluem duas ou três corridas com ele. Os preços dessas corridas são elevados. E o público exige e protesta se o artista não lhe dá o máximo em cada tarde. E Manolete tem de o fazer, quaisquer que sejam os toiros que lhe saiam, cerca de 25 dias no presente mês de Agosto. Se o não fizer, se não estiver bem sempre, a afición não lhe perdoa. É que ela pôs Manolete tão alto, que ele tem de ser sagrado. E, para conservar a posição, o artista tem de arriscar a vida em cada lance, tem de se superar a si próprio em cada tarde, tem de dar, em holocausto à paixão dos aficionados, todas as gamas da sua arte inconfundível.
As figuras do drama!
O drama das figuras!»


(Da barreira… Crónicas Taurinas por Saraiva Lima)




Quão actuais são estas palavras escritas em 1944.

Morir en la arena…


Morir en la arena,
no debe resultar tan doloroso…

He soñado que los toreros,
antes de subir al cielo,
se sumergen para siempre en aromas,
de rosas y claveles,
de lavandas y romeros…

Luego ascienden al Olimpo del cielo,
Dios los toma de la mano,
y tapa para siempre sus heridas…

La felicidad les embriaga,
y se visten de Esperanza y oro…

¿No resulta hermoso?

Los toreros no mueren,
Ya nacen muertos...
Son los novios del grito y el llanto...
Son los novios de la Muerte...

Lamborghini.


Um 15 de Agosto pouco taurino


O dia mais taurino do ano levou-me, desta vez, a Reguengos, para presenciar a tradicional corrida de toiros. Cartel aliciante, com dois cavaleiros figuras do toureio a cavalo nacional e um jovem que muito promete. Em acesa competição, dois grupos de forcados alentejanos, também com pergaminhos firmados no mundo das pegas em Portugal.

Os toiros pertenciam à ganadaria de Ortigão Costa, estavam bem apresentados, mas justos de forças e para o manso, exigindo labor aos cavaleiros e forcados.

Rui Salvador abriu praça, perante um exemplar muito reservado. Não começou da melhor forma, mas à custa de muito porfiar, terminou em bom plano, saindo por cima do seu oponente, com a colocação de dois bons ferros curtos no final da sua lide. Perante o seu segundo, um toiro que acusou alguma falta de força, as coisas também não lhe correram bem. Sem toiro no momento da reunião, deixou ferros em sortes mais aliviadas (1º e 4º), um deles caiu (o 3º), o que não o impediu de escutar música, e os restantes resultaram corretos na execução.

João Salgueiro veio mostrar que é um verdadeiro génio do toureio a cavalo na lide do seu primeiro toiro, segundo da ordem. Apenas não gosto de o ver conduzir as montadas sempre com as duas mãos nas rédeas. Um grande ferro comprido (o 2º), de praça a praça, bem ao seu estilo e dois curtos (os 1º e 2º) em sortes cingidas e emotivas, com cravagem de alto a baixo e ao estribo, bastaram para construir uma grande lide. Com o toiro a vir a menos, os dois últimos curtos resultaram menos cingidos. Perante o seu segundo, mais reservado, a preferir terrenos de tábuas e a esperar no momento do ferro, o cavaleiro da Valada viu-se obrigado a passar em falso por várias vezes e a ferragem resultou menos vistosa e menos correta. Ainda assim, nos curtos, o 2º e 4º ferros (este último a sesgo) foram dois bons ferros.

João Maria Branco marcou mais alguns pontos na sua ainda curta trajetória como cavaleiro. Senhor de uma boa brega, teve o senão de se preocupar em demasia com o público, para onde corria a provocar os aplausos após cada ferro. No primeiro do seu lote cravou dois compridos e cinco curtos, que alternaram entre o bom (1º e 4ºcurtos) e outros de cravagem mais aliviada nas reuniões. Na lide que encerrou a corrida a toada manteve-se, diante de um toiro distraído e que procurava terrenos de tábuas, sendo de destacar os 2º e 3º curtos, de boa execução.

Para as pegas, dois grupos vizinhos em competição. Pelo grupo de Montemor abriu praça João Pedro Tavares que, mesmo não conseguindo uma reunião perfeita (viajou com uma perna por cima do piton do toiro), aguentou os derrotes altos do toiro, recebeu uma boa ajuda e os restantes elementos fecharam com coesão. João Caldeira saiu para pegar o terceiro da ordem. Muito bem no cite, não conseguiu contudo aguentar os derrotes do toiro e só à terceira tentativa, com ajudas carregadas, conseguiu concretizar a pega. Muito bem, no final, a recusar a volta à arena. Frederico Caldeira foi o escolhido para a terceira pega dos de Montemor ao quinto toiro da tarde. Ao primeiro intento não conseguiu reunir, mas no segundo corrigiu, reuniu bem e consumou uma boa e rija pega, com o grupo a ajudar com muita coesão.

Pelos de Évora iniciou Ricardo Casasnovas que esteve bem no cite, mandou vir, reuniu corretamente e, com o toiro a desviar a trajetória do grupo, consumou uma boa pega, bem ajudado, sem que o seu oponente complicasse. João Pedro Oliveira foi o forcado “eleito” para a pega ao quarto da ordem. O toiro saiu de pronto e o forcado recuou até ao seio do grupo, onde reuniu, consumando a pega sem grandes dificuldades. José Pereira encerrou a tarde de pegas. Muito bem no cite, mandou vir, reuniu bem, fez a viagem até tábuas e aí o grupo fechou bem e consumou uma boa pega.

Destaque, pela negativa, para a entrada e saída de espectadores durante as lides sem que o pessoal de serviço nas portas interviesse. Parece até que os empresários têm maior preocupação com as saídas e entradas de acesso à praça (são essas que “dão” dinheiro…) do que com a saída e entrada nas portas de acesso às bancadas.

Por: Catarina Afonso

Reguengos de Monsaraz - Fotografias







Um momento de verdade...


Segunda corrida da feira taurina de Alcochete, integrada nas Festas do Barrete Verde e das salinas, esta também com alguns aliciantes: seis cavaleiros, com conceitos de toureio variados e, destes, um, João Salgueiro da Costa, que tinha curiosidade em ver depois do triunfo recentemente alcançado numa corrida televisionada; uma ganadaria espanhola que pela primeira vez pisava a arena de uma praça de toiros em Portugal; e um grupo de forcados mexicano que ainda não tinha visto atuar.

Os toiros, da ganadaria espanhola de Hato Blanco, com exceção do primeiro e quinto, foram mansos, muito reservados e denotando muito sentido, a criar muitas dificuldades a cavaleiros e forcados.

Rui salvador não esteve nos seus melhores dias, perante um dos toiros que, apesar de tudo, mais colaborou. Não esteve bem nos compridos e, nos curtos nem sempre cravou com correção. Valeu o esforço que sempre coloca naquilo que faz.

Sónia Matias teve pela frente um manso, distraído e muito reservado e fez o que pôde. Da ferragem que colocou, aproveitaram-se os segundo e terceiro ferros curtos de maior correção. Os restantes resultaram pescados e/ou a cilhas passadas.

A Gilberto Filipe tocou o toiro mais pesado da corrida e também um dos mais complicados. Não esteve mal nos compridos, mas, nos curtos esteve francamente mal. Apenas o quinto ferro foi cravado com alguma correção. Os restantes foram sempre colocados bem para lá do estribo e em sortes aliviadas. A finalizar foi protagonista de mais um dos episódios que infelizmente vão acontecendo cada vez com mais frequência nas nossas praças. Depois do primeiro aviso, cravou um palmo que nada adiantou ao que havia feito e, com a conivência do diretor de corrida, tentou, por três vezes(!!!) cravar um par de bandarilhas, que não conseguiu. Reconheceu o que havia feito e, muito bem, recusou a volta à arena.

Tomás Pinto também não teve a lide que certamente desejava. Nos compridos, despachou o primeiro, o segundo foi de maior correção e o terceiro sem importância. Dos curtos, apenas se aproveitou o primeiro. Os restantes foram a cilhas passadas e aliviados (2º, 4º e 5º) ou errou o toiro (3º). Finalizou com um violino à garupa, muito aplaudido pelo público presente.

João Salgueiro da Costa brindou o público com os melhores momentos da noite e, talvez dos melhores da temporada. Três bons ferros compridos abriram a sua atuação, sendo o segundo um grande ferro, pleno de emoção, deixando a impressão de que a colhida seria eminente, tal a justeza da reunião. Um grande ferro que deveria de imediato ter feito soar a música, o que apenas aconteceu (já não é mau…) após a cravagem do terceiro comprido. Nos curtos as coisas não correram tão bem, mas no meio de um ferro de colocação mais defeituosa e de outro em que falhou o toiro, deixou dois ferros muito bons, os segundo e terceiro. Grande lide!...

A encerrar a corrida esteve o também praticante João Maria Branco a quem também já vimos melhor. Ferros pescados (o primeiro comprido), muito aliviados na reunião (1º e 2º curtos) e passados do estribo (4º, 5º e 6º), constituíram uma lide que deixou muito a desejar, pese embora a sua idade e estatuto.

Se para os cavaleiros a noite não foi fácil, para os forcados foi também muito complicada. Iniciou a noite de pegas o forcado Rui Gomes, do Grupo de Forcados do Aposento Verde de Alcochete que concretizou a pega à segunda tentativa, depois de na primeira ter saído já no meio do grupo, que não conseguiu ajudar, já que o toiro metia a cara muito em baixo. João Salvação, cabo do grupo, saiu para pegar o terceiro e mais pesado da noite. O toiro saiu solto e com muita pata e o forcado saiu com um forte derrote. No segundo intento, com braços de ferro, concretizou uma grande pega, com o grupo a mostrar enorme coesão nas ajudas (sem necessidade de ajudas extra…). A encerrar a noite de pegas pelo grupo da terra saltou Marcelo Lóia, que esteve bem no cite e, embora a reunião não acontecesse da melhor forma, aguentou bem a viagem por alto até às tábuas, onde o grupo fechou bem (se bem que, desta vez, com ajuda extra).

Alejandro Martinez iniciou da melhor forma a actuação do grupo de forcados de Queretaro, do México. O segundo toiro da noite saiu com muita pata, o forcado reuniu bem, aguentou fortes derrotes e o grupo fechou com grande coesão nas ajudas. Para a pega ao quarto da ordem foi escolhido Antonio Vera, que, após seis tentativas(!) e com 11 forcados (dos dois grupos) em praça, não conseguiu concretizar a pega, deixando o toiro ir “vivo” para os curros. A Juan Leal coube encerrar a noite de pegas e, com 4 ajudas do grupo de Alcochete (não tinham já elementos suficientes), concretizou a pega ao primeiro intento, bem ajudado pelos restantes elementos e sem que o toiro complicasse muito a sua tarefa.

Por: Catarina Afonso

Forcado que é forcado, é forcado a vida inteira...



Não nos lembramos de dias, lembramo-nos de momentos…


Mais um ano, mais um segundo fim-de-semana de agosto e mais uma presença nas festas do barrete verde e das salinas em Alcochete, festas a que não falto desde há já cerca de dez anos.
Também desde essa data que não perco a corrida do concurso de ganadarias, marco histórico das minhas “lides” tauromáquicas. Este ano, não sei se pela crise (crise interna dos toiros e crise financeira do país), não me deixou gratas recordações, a não ser um dos momentos, em que a emoção foi tão forte que me levou às lágrimas. Custa (mas tem que acontecer) ver a despedida de um grande (enorme!...) forcado que vimos pegar tantas e tantas vezes e tão bem. Olé José Miguel Barbosa (Vinagre)!!!
Quanto aos toiros, apenas dois foram dignos deste concurso, tendo como referência todos os anteriores a que assisti. O primeiro foi enviado pela ganadaria da Condessa de Sobral, pesava 550 Kg, e estava bem apresentado, a condizer com um evento desta natureza. Quanto a comportamento, deu bom jogo e deixou-se lidar.
O exemplar da ganadaria de Branco Núncio, saído em segundo lugar não era digno dum concurso de ganadarias com este prestígio e com esta tradição. Pequenote, acusou o peso de 485 Kg, e denotou muita falta de força, para além de não estar rematado. Apresentação inferior numa corrida como esta…
O terceiro da ordem pertencia à ganadaria de Pinto Barreiros, estava bem apresentado (embora considere que este concurso merece melhor), pesava 520 Kg e foi o vencedor do prémio bravura, se bem que, ao contrário do que estava habituada, não tivesse havido um toiro verdadeiramente bravo.
A abrir a segunda parte da corrida saiu um toiro de José Lupi, com o peso de 525 Kg, com pouco trapio, distraído em demasia e sem ponta de transmissão.
O toiro de Conde de Cabral saído em quinto lugar trouxe-me muitas saudades do exemplar que no ano anterior aqui foi apresentado. Este, com o peso de 495 Kg, tinha uma nítida falta de força e nada transmitia.
A encerrar, um exemplar da ganadaria Murteira Grave, de apresentação excelente (e, por isso, justo vencedor do prémio apresentação), com o peso de 540 Kg, mas que, quanto a mim, estava um pouco gordo demais, o que lhe retirou alguma mobilidade.
Quanto aos cavaleiros, a tarde foi morna e sem ponta de emoção. Abriu praça António Ribeiro Telles, que perante um toiro que se adiantava muito, conseguiu, com a sua brega exemplar, corrigir-lhe um pouco a investida, e, no final, deixar dois bons ferros curtos, com destaque para o penúltimo, um ferro à maestro. No seu segundo, manso, distraído e desinteressado pelo cavalo, não conseguiu sobrepor-se ao seu oponente (ele que quase sempre pode com os mansos…) e as coisas não resultaram da forma a que estou habituada.
Rui Fernandes foi o cavaleiro mais aplaudido da tarde. Não sabemos porquê, mas foi. Até parece que quanto pior é o toureio praticado, mais aplausos o público lhe tributa… No seu primeiro, conduzindo sempre as montadas com as duas mãos nas rédeas (exceto aquando da cravagem dos ferros, mas também é só já o que falta…), deixou os ferros em sortes aliviadas, precedidas de batidas ao piton contrário, por vezes muito pronunciadas e a colocação resultou quase sempre para lá da cilha. No segundo do seu lote a sua prestação desceu ainda mais de nível, embora os aplausos do público fizessem parecer o contrário. Quiebros e mais quiebros e ferros em reuniões aliviadas e à garupa constituíram grande parte da sua lide. No final (para acabar em ambiente de triunfo) deixou dois meios pares de bandarilhas á garupa, muito aplaudidos por grande parte do público presente.
A Francisco Palha vi um toureio algo irregular, com alguns (poucos) ferros de boa nota (os 3º e 4º curtos da sua primeira lide) e outros (a grande maioria) de nota negativa. Ora a reunião acontecia de frente, ora com o quarteio aberto cedo demais, ora precedida de batida pronunciada ao pitón contrário, mas tudo sem ponta de emoção…
No último da corrida o destaque vai para a quantidade de ferros (dez!!!) colocados, com a anuência da diretora de corrida estagiária, numa lide aborrecida e muito prolongada. É caso para dizer que, mudam os diretores, mas, pelos vistos, tudo vai continuar igual…
Como é tradição e constituindo para mim um aliciante deste concurso, para as pegas apenas um grupo de forcados, os amadores de Alcochete. A abrir a tarde saltou Bruno Pardal (em boa hora regressado às pegas…), que fez tudo bem e consumou uma boa pega, com o grupo a ajudar bem. Para pegar o segundo saiu Fernando Quintella, que, com um cite muito sereno, a interessar o toiro, mandou vir e fechou-se muito bem, recebendo uma grande ajuda de João Rei e com os restantes elementos do grupo a ajudar com coesão. E para executar a terceira pega saiu, em despedida, José Miguel Barbosa (Vinagre), num grande (e único) momento de emoção. As coisas não lhe correram tão bem como certamente desejava (o toiro adiantava um piton colhendo o forcado no peito) e só à terceira tentativa e com as ajudas em cima conseguiu concretizar a pega da sua despedida. Nuno Santana não esteve bem a receber o toiro nos dois primeiros intentos e só à terceira tentativa, com ajudas carregadas, conseguiu concretizar a pega. Mesmo assim, no final, saiu para a volta (imerecida). Ruben Duarte executou, quanto a mim, a melhor pega da tarde. Perante um toiro reservado, pisou terrenos de muito compromisso, provocou-lhe a investida, recuou e reuniu muito bem, concretizando uma muito boa pega, com o grupo, mais uma vez a mostrar grande coesão nas ajudas. A encerrar a tarde de pegas saiu Pedro Belmonte, que citou e reuniu bem, aguentou a viagem por baixo, até à chegada das ajudas, que fecharam com coesão.
No final, uma nota de agradecimento para esse grande forcado que é José Miguel Vinagre e para o momento de grande emoção que me proporcionou. Na vida são estes momentos que perduram…

Por: Catarina Afonso

Alcochete - Momentos (12.Ago.2012)








E o prémio para a melhor pega foi para…


Depois de mais uma corrida de toiros em que foram atribuídos prémios para a melhor lide e para a melhor pega, sou tentada a manifestar a minha opinião, que vem já de há muito e que cada vez mais se consolida: inseridos numa corrida de toiros e nos moldes em que atualmente se atribuem, sou contra a existência de prémios.

Mas antes quero referir que não percebo nada da arte de pegar toiros, mas que, nos dias que correm, são os grupos de forcados que me levam ainda a marcar presença em algumas praças de toiros para presenciar uma corrida.

Se, relativamente ao prémio denominado para a melhor lide, não há muito a fazer a não ser concordar ou não concordar com a escolha do júri (quando existe), já em relação ao prémio para a melhor pega, gostaria de deixar alguns pontos para reflexão…

Antes da corrida na qual se vai disputar o prémio, deve esclarecer-se o público sobre o que é que se considera uma pega no caso concreto. Se é o desempenho do forcado da cara durante a pega ou se é o desempenho de todos os elementos do grupo que saltam à arena para tentar pegar o toiro. Só assim se pode avaliar corretamente a decisão do júri e comparar e discutir essa mesma decisão. É que já vi pegas em que o forcado da cara está muito bem, mas os restantes elementos estão menos bem ou até mal e é atribuído, nestas condições, o prémio para a melhor pega. Ou então o forcado da cara brilha mais porque as ajudas estão menos bem e o deixam sozinho na cara do toiro durante mais tempo. Na minha humilde e ignorante opinião, em situações destas o prémio deveria ser atribuído ao melhor forcado da cara e não à melhor pega, pois considero que uma pega deve ser avaliada através do comportamento de todos os elementos do grupo e não só do forcado que vai à cara do toiro.

Por isso é que, muitas vezes, quando é atribuído o prémio para a melhor pega eu considero que foi mal atribuído, pois o grupo, no seu conjunto, não esteve bem e, muitas vezes até que há violação das mais elementares normas da arte de pegar toiros, como é o caso do número de elementos que participam na pega.(Nestes casos, penso até que deveria estar prevista uma penalização para os grupos que, na realização duma pega, utilizam mais do que o número regulamentar de elementos previsto).

Só assim haveria mais rigor na apreciação e na atribuição de prémios para a melhor pega, ou para o melhor grupo ou para o melhor forcado da cara (este que nunca vi ser atribuído) e evitar-se-iam muitas discussões que, muitas vezes, mais parecem discussões sobre o sexo dos anjos…

Por: Catarina Afonso

Salvaterra - As Pegas

A raça e a valentia de um forcado


Os toiros da ganadaria Palha foram os grandes responsáveis por me ter deslocado a Salvaterra para presenciar mais uma corrida de toiros. Confesso que estava à espera de melhor. Outros dos responsáveis por esta minha deslocação foram os grupos de forcados que actuavam nessa noite. E, neste capítulo não houve desilusão…mais que não fosse pela última pega do grupo de Montemor realizada pelo forcado Francisco Borges, pega de raça e valentia e que valeu bem a corrida.
No que toca à apresentação, os toiros Palha deixaram algo a desejar…Os três primeiros eram indignos de pisar a arena. Como alguém, ao meu lado dizia, “esta ganadaria até trata bem os toiros”… pelo que que não havia razão que justificasse a sua apresentação: o primeiro selado, o segundo pequenote e o terceiro sem cara. Valeram os últimos três, bem melhor apresentados. Quanto a comportamento revelaram-se difíceis e o último foi um manso perdido. De terroríficos nada tinham…
No que ao toureio a cavalo diz respeito, Rui Salvador foi o que de melhor vi nesta noite, melhor no seu segundo do que no que abriu praça, em que foram manifestas algumas dificuldades e em que houve demasiadas intervenções dos seus bandarilheiros. Acabou, no entanto, em bom plano. No segundo do seu lote foi evidente a boa brega ministrada ao toiro, com destaque para a preparação das sortes. Lide muito boa, onde pôde mostrar a raça que o caracteriza e que, quanto a mim justamente, venceu o prémio para a melhor lide.
A Ana Batista já lhe vi bem melhor… Muito aliviada nas reuniões, a cravar quase sempre para lá da cilha e, algumas vezes até para lá da garupa, não está a tourear como em épocas passadas. De tudo o que vi destaque pela positiva para o quarto ferro curto da sua primeira actuação, em que entrou pelo toiro e cravou de alto a baixo e ao estribo.
Marcelo Mendes teve uma primeira actuação desastrada. Conduzindo sempre (e sempre é mesmo sempre) a montada com as duas mãos nas rédeas, sofreu toques a mais e os ferros resultaram sempre à garupa. Mesmo debaixo de alguns assobios, atreveu-se, no final, a pedir mais um ferro… O segundo toiro que lhe tocou em sorte (ou azar…) não lhe deu grandes opções de lide. Apesar disso, deixou alguns ferros a sesgo de boa execução, numa actuação de grande valor e entrega.
Quanto às pegas, começou o grupo de Montemor por intermédio de António Vacas de Carvalho, que citou e reuniu bem, aguentou fortes derrotes, mas o grupo demorou um pouco e quando quis fechar a pega o forcado da cara já estava de fora, tendo sido recomposto pelas ajudas (convém referir que, noutras ocasiões esta pega teria sido dada como consumada…). Na segunda tentativa fez de novo tudo bem, o grupo ajudou com coesão e consumou uma boa e rija pega. Tiago Telles de Carvalho foi à cara do terceiro da noite. À primeira tentativa não recebeu bem e não se fechou. Consumou ao segundo intento, à córnea e bem ajudado pelo grupo. Para a quinta pega da noite saiu Francisco Borges, que citou bem o toiro que saiu com pata, reuniu muito bem e com impacto, aguentou fortes derrotes sozinho na cara do toiro e foram necessárias (?) duas ajudas extras (até quando?) para que esta grande pega fosse consumada. Mereceu o prémio para a melhor pega (leia-se a realizada pelo melhor forcado da cara).
Pelos de Vila Franca iniciou a noite o forcado Rui Godinho que executou uma pega sem que o toiro impusesse grandes dificuldades e com o grupo a ajudar bem. Rui Graça foi para a cara do quarto toiro da noite e, na primeira tentativa, esteve mal a receber e não se conseguiu fechar. À segunda, com o toiro a ensarilhar, não reuniu da melhor forma, mas conseguiu fechar-se e a pega foi consumada nas tábuas onde embateu depois de ter passado pelas ajudas. Ricardo Patusco foi “buscar” o toiro a tábuas, reuniu superiormente e consumou uma muito boa e rija pega, com o grupo a mostrar coesão nas ajudas.

Por: Catarina Afonso

As Voltas à Arena


Sempre ouvi dizer que uma das características essenciais num toureiro (leia-se cavaleiro, matador, forcado…) é a humildade. Sem esta virtude nenhum triunfo faz sentido e só a humildade faz um grande toureiro …
A volta à arena no final de uma lide ou de uma pega deve ser um prémio para o que foi realizado pelo cavaleiro/matador/forcado e não um ritual que faz parte de todas as corridas de toiros. Ou seja: a volta à arena deve ser merecida e não obrigatória. Sobre isto já muito se escreveu, mas não há maneira de as coisas mudarem…
Vem isto a propósito do que ontem vi em Vila Franca, uma praça das mais importantes do país e, por isso, classificada como de 1ª categoria. Uma lide e duas pegas pouco ou nada conseguidas e lá saem todos para a volta à arena…que desfaçatez! Como pode educar-se o público que acode às praças se os cavaleiros/matadores/forcados/empresários, etc. não se preocupam em fazê-lo?
Sempre defendi e defendo que os grandes responsáveis pelo grau de cultura taurina dos espectadores que temos nas nossas praças são os intervenientes diretos nas corridas. São eles os mais aptos a avaliar o trabalho que desenvolvem e a saber quando devem ou não sair para a volta. Claro que é sempre melhor dar a volta e ter a presenciar um público pouco aficionado, que bate palmas por tudo e por nada e que, por isso, não complica a vida dos toureiros. Talvez por isso não haja interesse da sua parte em participar na “educação taurina” do público…
Mesmo quando há insistência do público em que se saia para a volta à arena, deve transmitir-se a esse mesmo público que, não estando bem, não se deve sair (e não sair é não sair mesmo…). Da próxima vez (ou das próximas vezes se não for entendido à primeira) o público será, com certeza, menos insistente quando os cavaleiros e/ou forcados estejam menos bem…
Escrevi aqui há um tempo atrás que admirei o gesto de um empresário que, através do sistema de som instalado numa desmontável, solicitou ao público que fizesse silêncio no decorrer das pegas, explicando porquê. Este pedido foi feito aquando da realização da primeira pega e o silêncio manteve-se nas restantes.
Pois bem, se os cavaleiros e forcados saem para a volta à arena de cada vez que toureiam (mal ou bem) vamos continuar a ter o mesmo público (com tendência a piorar) a bater palmas por tudo e por nada e a ver corridas de toiros que muitas vezes nos fazem lembrar espetáculos de circo.

Por: Catarina Afonso

A Humildade faz toda a diferença…


A minha paixão (desmedida) pelos toiros levou-me a percorrer mais quase 600 km para assistir a uma corrida de toiros. Desta vez foi em Vila Franca de Xira, por ocasião das Festas do Colete Encarnado, onde todos os anos marco presença. O cartel era para mim atrativo, sendo que o que mais ansiava era ver o comportamento dos toiros da ganadaria de Oliveira Irmãos. E, diga-se, não me dececionaram. Gostei sobretudo dos que foram destinados ao toureio a pé, ambos aplaudidos pelo público aquando da recolha aos curros. Os destinados ao toureio a cavalo revelaram algumas dificuldades, próprias dos toiros desta ganadaria, sendo que os segundo e quinto da ordem revelaram mansidão. Os restantes deixaram-se lidar, sendo que era necessário sabê-los tourear.
António Telles teve uma primeira lide algo irregular, mas com momentos altos. Começou com um comprido traseiro, mas corrigiu e os dois seguintes, à tira, foram de boa nota. Nos curtos destaque para o 4º ferro, colocado em reunião mais cingida. No segundo do seu lote, sobretudo nos curtos, com o Rondeño, vimos, uma vez mais, uma lição de toreria. Excelente na brega, na escolha dos terrenos e no contornar as dificuldades impostas pelo toiro (que eram muitas…). O quinto e último ferros curtos foram de levantar as bancadas, tanto na reunião, como na colocação e, a preparação foi sublime. No final o público obrigou-o a duas voltas à arena. (Sempre ouvi dizer que vale mais pouco e bom do que muito e ruim…)
João Telles não teve sorte no lote que lhe tocou, mas também nada fez para alterar essa situação. Ou seja: na minha humilde opinião, mesmo com os toiros que lhe tocaram poderia ter estado bem melhor. No primeiro do lote apenas à terceira conseguiu deixar o primeiro ferro comprido no toiro. Nos curtos, o terceiro foi o único ferro que foi colocado sem sofrer qualquer toque na montada. No final, sem que o público se manifestasse, saiu voluntariamente para a volta, numa demonstração de falta de humildade e reconhecimento do que havia feito. A segunda lide resultou correta, embora com ferros aliviados (1º) e colocados à garupa (2º e 3º).
Para os forcados de Vila Franca a tarde também não foi nada fácil. Iniciou o cabo Ricardo Castelo com uma muito boa pega, em que marcou bem todos os tempos e onde o grupo mostrou grande coesão nas ajudas. Diogo Pereira saltou para pegar o segundo da tarde. O toiro sai com prontidão, o forcado reúne, mas sai ao chegar ao grupo, com o astado a tirar a cara. Na segunda entrada ao toiro recua deficientemente e não consegue reunir. Pegou à terceira com ajudas carregadas e sem brilho. No final saiu também para a volta que não justificou, muito menos por estar perante o “seu” público. Para a pega ao quarto da tarde foi escolhido Márcio Francisco, que efetuou a pega da tarde. Bem a receber, a aguentar fortes derrotes, com o toiro a desviar a trajetória e o grupo a fechar com grande coesão. A encerrar a tarde de pegas esteve Ricardo Patusco., que na primeira tentativa não consegue reunir por não recuar da melhor forma. Ao segundo intento consegue reunir, o toiro viaja com a cara em baixo e o forcado da cara sai. Consegue consumar a pega à terceira tentativa, com as ajudas em cima e sem qualquer brilho. No final deu volta, mesmo sabendo que a não merecia, pois que inicialmente se recusou a sair.
David Mora veio uma vez mais a Vila Franca, mostrar as suas boas maneiras. É verdade que teve pela frente dois bons toiros, mas também é verdade que porfiou bastante e mostrou porque é figura. Ao primeiro recebeu-o de capote por verónicas de boa execução, rematadas com uma meia verónica. Depois de um tércio de bandarilhas desastrado por parte da sua quadrilha, mostrou bom ofício com a muleta, que perdeu por duas vezes durante a faena. Mesmo assim, vimos uma boa série de passes pela direita e mais duas excelentes séries desenhadas com a mão esquerda. Ao último da tarde lanceou-o por verónicas a pés juntos, prosseguindo com lances por chicuelinas, rematados com meias verónicas. Na muleta vimos boas séries, tanto pela direita como pela esquerda, rematadas sempre com passes de peito de elevado nível. Já com o toiro fechado em tábuas, forçou alguns passes sem significado. Tardou, quanto a nós, em escutar música.
E foi assim, que uma vez mais saciei a minha sede de toiros… Boa corrida, com António Telles ao seu nível (de maestro) e com João Telles a não conseguir romper. Lamentamos a falta de humildade e a falta de reconhecimento do labor desenvolvido por parte de João Telles e também dos forcados de Vila Franca, que não mereciam as voltas à arena em duas ocasiões. E, para mim, em qualquer toureiro a humildade faz toda a diferença…

Por: Catarina Afonso

Setúbal - Pequenos Detalhes


Na passada sexta-feira tinha planeado estar presente na corrida do S. Pedro em Évora. Não tendo sido possível decidi, então, assistir à corrida pela TV. Se tivesse estado presente, como era meu desejo, teria narrado (“cronicamente”) os incidentes da dita, acompanhando com algumas fotos que iria tirar. Assim, pela televisão, achei que era melhor não escrever sobre a corrida, pois que são muitos os momentos que se perdem e corre-se o risco de falharem pormenores importantes.
Mas, depois de ver a corrida, pensei que, via televisão, também se pode escrever sobre outros momentos que não aqueles que descrevem lides, ferros ou pegas. Foi por isso que decidi escrever sobre alguns momentos dignos de destaque e de reflexão sobre a corrida de Setúbal a que ontem assisti via TV.
Em primeiro lugar, quero que fique claro que sou uma defensora acérrima das corridas de toiros e que a minha paixão pela Festa Brava é desmedida. Depois, quero referir que nada tenho contra a RTP e que esta estação televisiva está de parabéns pelo serviço público que presta através da transmissão de corridas de toiros.
Passo então às ideias que me vieram enquanto assistia à transmissão da corrida de toiros de Setúbal, através da RTP…
O primeiro momento de relevo vai para o curro de toiros que esteve em praça. Toiros sérios, que transmitiam e que pediam toureiros à altura, o que não houve. Um grande OLÉ!!!!, pois, para a ganadaria de António Silva…
Isto mesmo ficou patente na apreciação de José Cáceres aquando da lide de Luís Rouxinol ao segundo da noite: “ Um toiro imponente e com uma cara destas pode ser até perigoso…”
Num segundo momento, e logo após ver a primeira pega, deixo no ar uma pergunta: porquê estes grupos de forcados para pegar um curro de toiros deste calibre? Será propositado, será por obrigação ou será por pura opção?
Já lá dizia o José Cáceres: “Não é fácil rabejar um toiro com este poder…” E digo eu: e pegar? Só com 9 ou 10 elementos. Ou então: “Lá atrás é preciso mais coesão que este toiro não é para brincadeiras…” E eu acrescento: nem para estes forcados…
E já agora deixo no ar outra pergunta, esta para, talvez (ou talvez não), reflexão de quem comanda os destinos da Festa em Portugal: o que acontece, ou melhor, o que deverá acontecer a um grupo que utiliza mais do que o número de forcados que estão previstos no Regulamento para executar uma pega? E, pior ainda, o que acontece quando há reincidência?
Bem, a resposta, ontem foi simples: dá-se prémio… Sim, em vez de sancionar este tipo de atitudes, premeiam-se…
Se calhar é melhor alterar o Regulamento e nele prever um número de forcados superior ao que neste momento está previsto para execução da pega. Ou então, prever no novo Regulamento uma sanção para quem viole essa norma…
E que dizer da realização da corrida? Quanto a mim, muito má… Para o realizador é mais importante transmitir aos telespectadores o que se passa nas bancadas do que mostrar a execução completa de uma pega ou a colocação dos ferros numa lide a cavalo. A transmissão de uma corrida de toiros é, como disse, um serviço público, mas deve ser transmitida a corrida e não mostrar quem está nas bancadas, ou as botas do cavaleiro e as meias dos forcados… Penso ser este um aspecto muito importante que a RTP deve rever.
Outro dos momentos importantes da transmissão televisiva foi o relógio que apareceu no canto inferior do ecrã. Dizia o José Cáceres que era para se verificar se o director de corrida cumpria o que está estipulado no Regulamento sobre os tempos das lides. Pois bem…tão depressa apareceu como despareceu. E alguém viu se foram cumpridos ou não os tempos das lides? E porquê? Será que alguém interferiu quando soube desta invenção?
E por falar em relógio, um último momento digno de nota foi o comentário do Dr. Vasco Lucas: “o director de corrida esteve muito bem como aficionado, não tinha nada que dar aviso…” Mas então em que ficamos: o Regulamento é para ser cumprido ou não? Um director de corrida pode “dar aviso” nuns casos e noutros não? E será que um director de corrida que cumpre e faz cumprir o Regulamento não é aficionado? Ou será o contrário?
Vai mal o mundo da Festa com momentos como estes…

Por: Catarina Afonso

Amor com amor se paga…


No passado dia 25 de Junho, à semelhança de muitos outros anos nesta altura, rumei até Badajoz para assistir a uma corrida de toiros integrada na Feria de S. Juan. Cerca de 300 Km de distância separam esta cidade espanhola da cidade onde habitualmente vivo, realizados sob um calor abrasador que só uma enorme paixão pelos toiros consegue suportar. Mas a expectativa era grande e a certeza de que todos os intervenientes daquela tarde colocariam em praça toda a sua toreria e se entregariam também com toda a paixão no exercício da mais bela profissão do mundo, justificaram esta minha opção. E nem as minhas as expectativas, nem as minhas certezas saíram defraudadas.
A praça estava esgotada (com muitos portugueses) e o ambiente era enorme...Sobretudo para ver duas reaparições: a de José Tomás que não toureava em público desde o passado ano (sendo que na presente temporada apenas se anuncia em três ocasiões) e a de El Juli, depois da lesão no ombro, em consequência de colhida sofrida há umas semanas atrás. Depois havia também Padilla que eu vira já na sua emocionante reaparição em Olivenza e que é um dos símbolos da concretização desta paixão que é o toureio.
Os toiros, esses pertenciam à Ganadaria de Garcigrande que pasta nos campos de Salamanca, que percorreram mais ou menos a mesma distância que eu e, também eles, seguramente, em nome da paixão pelo toureio.
Abriu praça, por ser o mais antigo do cartel dessa tarde, esse toureiro enorme de nome Juan Jose Padilla, que, essencialmente, baseou as suas faenas na raça e no querer que o caracterizam.(Convém aqui e agora referir o que tem sido muito falado desde a sua reaparição: este toureiro não foi talhado para este tipo de toureio, ou melhor, para o tipo de toureio exigido por estes toiros. Apenas devido ao grande infortúnio que lhe bateu à porta no findar da passada temporada e também ao querer e enorme força de vontade demonstradas na sua recuperação, foi chamado a estes cartéis… Mas voltemos à corrida. Padilla recebeu o seu primeiro por verónicas bem templadas e, em seguida escutou assobios pela sua decisão de não bandarilhar. Na muleta o toiro apagou-se muito cedo e não permitiu qualquer tipo de luzimento por parte do matador. Matou de meia estocada e decabello e escutou silêncio no final. Para o segundo do seu lote veio com todas as ganas de triunfo, depois de ver os seus alternantes triunfar no primeiro que lhes havia tocado em sorte. Recebeu com uma afarolada de joelhos em terra e continuou por verónicas que terminou com uma revolera. Desta vez bandarilhou, no que escutou sentidos aplausos por parte do público. No último tércio iniciou de joelhos em terra privilegiando mais o toureio acessório do que verdadeiramente o essencial. Mas também é verdade que a falta de casta do toiro em nada ajudou. Matou de uma boa estocada à segunda entrada e cortou uma orelha.
A José Tomás tocou o pior lote… O seu primeiro não tinha fijeza e teve que porfiar muito para levar por diante o eu toureio puro e de verdade. Inicia com uma série de chicuelinas de um temple extraordinário, sendo que logo aí se viu que o toiro não transmitia nem um bocadinho. Na faena de muleta começa com estatuários e, na falta de toiro, construiu o seu toureio à base de muita quietude, valor e estoicismo, quase sempre com o toiro a tocar na taleguilla com os pitons. Terminou com uma série de manoletinas que, mais uma vez, pecaram por falta de transmissão do toiro. Matou de estocada inteira, mas algo traseira e caída e cortou uma orelha. Ao seu segundo recebeu-o com suaves lances de capote a pés juntos, para, depois do tercio de varas, executar uma boa serie por gaoneras. Na muleta, uma vez mais perante um toiro sem classe, teve uma faena que foi de menos a mais, ou, melhor a muito mais… Iniciou com alguns passes menos conseguidos, arriscou a colhida, cresceu e pôs todos de pé, rendidos ao seu toureio. Matou de estocada inteira e cortou duas orelhas.
El Juli foi, sem dúvidas o melhor da tarde, levando a melhor sobre José Tomás (e que bonito é ver rivalidades destas em praça!...). Ao primeiro do seu lote recebeu com verónicas de bela execução, rematadas com uma media de fazer levantar a praça. Na muleta baseou a sua faena na mão direita, já que pelo outro lado o toiro apresentava algumas dificuldades. E foi aí que vimos grandes séries de derechazos, sempre de mão baixa e rematados com soberbos passes de peito. Prosseguiu com uma enorme variedade de passes que puseram o público todo de pé. Matou de estocada inteira e cortou duas merecidas orelhas. A encerrar praça, mais uma grande faena de El Juli… Perante o toiro mais sério da corrida, não pôde luzir-se com o capote. Com a muleta iniciou como que dizendo ao toiro que quem manda é o toureiro e, submetendo-o completamente, consegue sacar passes de grande valor e técnica. Termina metido entre os pitons e com o público completamente rendido ao seu toureio, mostrando que, também ele, toureia com valor e arte. Mata de estocada inteira, en todo lo alto, rodando o toiro sin puntilla.

E foi assim, que, com toureio caro e grande a minha paixão foi recompensada pela paixão dos toureiros em praça. Foi mesmo caso para dizer que amor com amor se paga…


Por: Catarina Afonso

1º Toiro de Juli - 25Jun Badajoz


Juan José Padilla no seu 1º toiro - 25Jun Badajoz






















Nunca é silêncio vão…

Feira de S. João e, nada melhor para ajudar à festa do que uma corrida de toiros. Apesar de tímidas acometidas dos anti taurinos (sim anti taurinos e não associações de defesa dos animais…), a corrida foi por diante com casa cheia, sinal de que esta cidade tem gente que gosta de toiros. Está, pois, de parabéns a Guarda e Paulo Pessoa de carvalho que organizou. É difícil escrever sobre uma corrida de toiros quando acontece na terra onde vivemos e quando muitos dos intervenientes (neste caso forcados de ambos os grupos) são nossos amigos. Mas torna-se mais fácil quando as coisas correm bem e sai dignificada a Festa através das nossas gentes. Começo, por isso, e por outras razões mais, pelos forcados. Em praça estiveram dois grupos: um, o mais antigo, oriundo da região onde resido temporariamente por motivos de estudos e outro, de mais recente formação, constituído por elementos da região onde nasci. Alguns dos primeiros são colegas e alguns dos segundos são amigos e, inclusivamente, companheiros de “lides”. Os de Montemor vieram para dar oportunidade aos novos, com João da Câmara a abrir praça. O toiro saiu de pronto, com alguma pata e o forcado reuniu bem para uma muito boa pega, com o grupo a suportar bem os derrotes junto a tábuas. Francisco Barreto não recuou o suficiente para consumar a pega ao primeiro intento; conseguiu pegar à segunda tentativa, com o grupo a ajudar bem. João Megre fechou a tarde de pegas do grupo alentejano. Esteve bem no cite, na reunião houve algum impacto, mas fechou-se bem e consumou uma boa pega, com o grupo a mostrar coesão apesar da juventude dos elementos em praça. Os de Coimbra vieram para mostrar que a região da Guarda também tem forcados, já que muitos dos seus elementos nela nasceram e cresceram. Assim, os três elementos escolhidos para ir à cara dos toiros do seu lote eram todos desta região beirã. André Leal, que habitualmente ajuda, efectuou a sua primeira pega como forcado da cara. E isso notou-se com algumas imprecisões no cite e na maneira algo apressada como quis fazer as coisas. Na primeira tentativa recebeu mal e não conseguiu fechar-se. Consumou na segunda entrada ao toiro, apesar de ter adiantado as mãos no momento da reunião. Nuno Afonso citou com classe, reuniu bem, aguentou alguns derrotes fortes do toiro e consumou uma muito boa pega, com os restantes elementos do grupo a mostrarem coesão. Diogo Pereira fechou esta boa tarde de pegas… Sempre muito bem no cite, na primeira tentativa empranchou e saiu por cima do toiro algo maltratado. No segundo intento, corrigiu as distâncias, reuniu bem e consumou uma muito boa pega, com o grupo a ajudar com coesão. Quanto aos cavaleiros, confesso que em nada defraudaram as minhas expectativas. O clã Bastinhas esteve como em muitas tardes. Desinspirados pai e filho, com os ferros a resultarem à garupa, em reuniões conseguidas através de viagens lateralizadas e sem qualquer ponta de emoção. Valeu o entusiamo do público que, nestas paragens mostra uma afición diferente, valorizando o acessório em vez do essencial. O cavaleiro da terra (leia-se região/distrito) Gonçalo Fernandes mostrou as poucas corridas que tem efectuado, com um toureio baseado na velocidade que imprimiu e sem montadas à altura dos novilhos que lhe tocaram em sorte. Foram os elementos da sua quadrilha que quase sempre e muito frequentemente intervieram para tentarem resolver os problemas. Foi colhido com algum aparato na lide do seu primeiro, felizmente sem consequências. Os Novilhos da Casa Avó (ou Casa d’Avó como estava anunciada a ganadaria) estavam bem apresentados e saíram a causar algumas dificuldades. Mostraram-se, contudo, colaboradores e a deixarem-se lidar. De toda a corrida, um pormenor houve que, pela sua grande importância (pelo menos para mim…) me chamou à atenção. Perante o ruidoso público, aquando do momento da primeira pega, Paulo Pessoa de Carvalho chamou à atenção dos presentes que este é um momento muito importante, que deve ser respeitado pelo público e que, por isso, deve fazer-se silêncio. E não é que, com excepção das duas últimas pegas, cada vez que um forcado iniciava o cite se fazia silêncio? Digam lá que o público não deve ser educado para estas coisas dos toiros!? Mas para mim nesta tarde este silêncio teve ainda mais significado no que noutras ocasiões: na minha terra e tendo como intervenientes alguns amigos e colegas… Não foi, por isso, silêncio vão… Por: Catarina Afonso

Corrida de Toiros na Guarda - Momentos

















A Propósito dos Diretores de Corrida…

       
       Há já muito tempo que me apetecia escrever algo sobre os diretores das corridas de toiros em Portugal. A falta de tempo e talvez alguma falta de “coragem” levaram a que só agora o faça. E digo falta de “coragem” porque alguém com responsabilidades na Festa em Portugal me disse uma vez que não era de bom-tom fazê-lo, que isso era dar força aos anti taurinos, etc. etc. Com a chegada de nova fornada de diretores e com a “reforma” forçada dos muitos que há anos andavam a arrastar-se pelas nossas praças, penso que chegou o momento… Os diretores de corrida em Portugal não têm passado de figuras decorativas dentro dos rituais da Corrida de Toiros…e continuam a sê-lo. Digo isto porque hoje ninguém respeita os diretores de corrida, nem eles conseguem fazer-se respeitar. Mas também como é que podem fazê-lo se eles próprios fizeram parte do interior (podre) da nossa Festa, sabendo todos os “truques” e malabarismos que são praticados no meio? E se até eles, um dia, já puseram em prática esses “usos e costumes”, como podem vir agora impor aos outros restrições ou proibições a essa prática? Vem isto a propósito e contra os que defendem que só pode ser diretor de corrida quem já foi interveniente direto nos meios tauromáquicos (leia-se, matador de toiros, cavaleiro tauromáquico, bandarilheiro, forcado…). Considero eu que os diretores de corrida não devem ser estes que um dia e por muitos anos andaram no meio, mas antes quem, com conhecimentos e habilitações condignas, pode desempenhar essa função de modo isento, imparcial e sem cedência a manobras de bastidores muito em uso no mundo tauromáquico. ( E basta ver o clima de agitação e nervosismo sempre que alguém da IGAC faz uma vistoria à praça durante uma corrida…) A propósito de isenção e imparcialidade – exigíveis em todas as profissões, mas muito mais ao nível do exercício de funções no Estado, onde estes princípios estão legalmente consagrados – como pode um diretor de corrida, na atualidade, ser isento e imparcial quando lá em baixo está, como interveniente direto o “seu” grupo de forcados? Ou o cavaleiro de que foi peão de brega durante muitos anos? E, mais grave ainda, quando um seu familiar direto faz parte do grupo de forcados ou das quadrilhas de bandarilheiros que atuam nesse dia? Se uma decisão de um qualquer funcionário ou agente do Estado sobre um assunto em que participa um seu familiar até determinado grau é geradora de nulidade nesse processo, como pode isso não se estender ao caso das corridas de toiros? Não nos enganemos! Ou isto da Festa é levado a sério e com algum rigor neste campo concreto ou nunca poderemos mostrar aos “outros” que a nossa paixão tem e pratica valores que muitas vezes não existem em manifestações de outra índole… Aguardo, pois, com muita expectativa a entrada em funções nos novos diretores de corrida, mesmo sabendo que não posso esperar muitas alterações, dada a forma como decorreu e está a decorrer o processo de seleção (prazos, estágio, avaliação do estágio, determinação do número de vagas a preencher…). Acredito, no entanto que estes novos diretores (alguns de “fora” da Festa) podem e devem mudar muita coisa em relação à direção das corridas de toiros em Portugal. 

 Por: Catarina Afonso

Cartel: Guarda - 24 de Junho

Deu Saudade, só isso!...

Na passada quinta feira fui aos toiros ao Campo Pequeno. Havía estado na corrida da reinauguração, há já sete anos e decidi, desde que foram divulgados os cartéis, que a esta não faltaría. O cartel era o melhor dos conhecidos para a primeira parte da temporada no Campo Pequeno e marcava a dita reinauguração, que tanta saudade me deixou…e mais agora depois de assistir a esta corrida. O primeiro facto a assinalar deve-se com a presença de Pablo Hermozo de Mendonza , que, confirmou, mais uma vez, que no Campo Pequeno apenas necessita de pisar a arena para triunfar. O Campo Pequeno, cada vez mais, deixou de ser a catedral do toureio a cavalo, para se ir transformando numa vulgar praça onde as palmas se fazem ouvir por tudo e por nada (mais por nada do que por tudo…). Os toiros de Vinhas transmitiram pouco, apesar da anunciada temporada do toiro toiro. Gostei apenas dos dois primeiros, que tiveram um pouco mais de som. Em termos de apresentação, nada a dizer… António Ribeiro Telles não conseguiu repetir lides de outras noites nesta praça (e recordamos, com saudade as noites de alternativa de Manuel Telles Bastos e de João Ribeiro Telles, para além da noite da reabertura…). Valeu a mostra de como se monta e se lidam os toiros. Quanto ao momento fulcral (pelo menos para mim…e, pelos vistos, para poucos mais dos presentes) andou mais aliviado do que é costume e a emoção dos grandes ferros em sortes frontais e cingidas esteve ausente. Pablo Hermozo de Mendonza triunfou ainda antes de começar a tourear… No seu primeiro viu-se e desejou-se para o parar, com toques e mais toques e a colhida quase eminente. Depois vieram os ferros à garupa, ouvindo música num ferro em que consentiu um toque nítido na sua montada (talvez este toque tenha originado o toque da música…). No segundo do seu lote, à excepção dos toques na montada, viu-se mais do mesmo, com a arte do rejoneio em grande. Toureio a cavalo…muito pouco. Ah! Já agora, uma pergunta (para mim que sou leiga nesta matéria): será possível “pedir” para cravar mais um ferro e aparecer com três (!!!) para cravar?... É que já vi esta temporada um director de corrida recusar mais um ferro a um cavaleiro… Manuel Telles Bastos foi, apesar de alguns momentos menos bons, o melhor da noite, deixando alguns ferros de boa execução, em reuniões com emoção. Não teve sorte no lote que lhe tocou lidar, mas viu-se esforçado, laborioso, a colocar bem os toiros e a cravar de frente e de alto a baixo. Pena que o público não aprecie… Terminou com dois dos melhores ferros da noite. Para os forcados a noite não foi de grandes dificuldades, já que os toiros não derrotavam e as viagens tornavam-se cómodas. Pelos de Évora iniciou a noite Ricardo Casas-Novas que esteve bem no cite e, apesar de não reunir da melhor forma, consumou a pega ao primeiro intento, com o grupo a ajudar bem. João Pedro Oliveira saiu para pegar o terceiro da noite e estve francamente mal nas primeiras duas tentativas em que não conseguiu reunir. À terceira foi mal ajudado, tendo consumado ao quarto intento sem qualquer brilho. Recusou, muito bem, a volta à arena. O último do lote foi para o cabo António Alfacinha que fez tudo bem: citou bem, mandou e recebeu superiormente, consumando uma boa pega. Pelo Aposento da Moita pegaram o cabo Tiago Ribeiro à segunda tentativa, depois de não conseguir receber a investida alta do toiro ao primeiro intento; Nuno Carvalho, numa vistosa pega, aguentado na cara do toiro uma longa viagem até tábuas; e Nuno Inácio numa pega sem complicações, com o forcado a fazer tudo bem. Em suma: uma corrida que foi mais uma e que fez lembrar outras grandes noites no Campo Pequeno. Só isso!...

 Por: Catarina Afonso